terça-feira, dezembro 06, 2016

NOSSA VIDA NÃO TEM CAMINHO

Caminhos e estradas são muito simbólicos e servem para criar metáforas de todo tipo. Dizem que viver é seguir um caminho. Quando a pessoa comete erros, consideram que perdeu o caminho ou o rumo. Não consigo imaginar como é esse caminho nem quem o abriu para mim. Alguns dizem que  viver é seguir por essa imaginaria estrada até encontrar a morte. Outras pessoas dizem que, se seguirmos certas regras obrigatórias, ao final dessa viagem alcançaremos o paraíso. Claro que uma boa parte acaba indo é para o inferno. 
Acho bastante interessante essas metáforas, pois simplificam muito a nossa necessidade de encontra uma  lógica ou uma razão do viver.
Mas, será que não estamos sendo enganados com isso? A metáfora da vida como um caminho a percorrer dá a ilusão de que existe um sentido prévio da  vida, uma espécie de missão impostas a todos as pessoas. Dizem até de que há, numa determinada etapa desse caminhar, uma encruzilhada. Para a esquerda vamos direto a um mundo sustentado pelo diabo. Para a direita, podemos alcançar o céu, povoado de anjos imaculados e com um chefe todo poderoso chamado Deus. 
No cotidiano de nossas vidas essa metáfora, embora não seja nada prática, nos segue como vulto ideal, uma espécie de bússola que nos orienta ao longo da acidentada jornada
 Por atrevimento ou, talvez por imprudência, resolvi imaginar como seria minha vida sem essa metáfora. Considerei que viver pode ser um caminhar, mas sem nenhuma vereda, nem uma trilha sequer. Teria que viver abrindo minha própria trilha em meio às florestas das possibilidades, de desafios, de obstáculos e das necessidades de escolhas. Preciso, toda, desbravar uma parte desconhecida, uma subida penosa e cheia de pedras ou uma descida inclinada demais, escorregadia e ponteada de valas e cercada de despenhadeiros. Posso encontrar, à frente, pântanos perigosos ou desertos inclementes. De qualquer forma minha caminhada não pode ser detida a não ser pela morte. E, como desejo continuar bem vivo, não desisto e prossigo. Imagino que não há bússola nem outros meios confiáveis de me orientar. Sigo em frente meio perdido, desorientado ou caminhando em círculos. Depois consigo encontrar meu rumo e recobrar o animo de prosseguir. Atrás de mim, fica o caminho, as marcas das solas do sapato e os galhos e cipoais rompidos à minha passagem. À frente, não vejo sinais de  de outros, rastros de algum viajante mais prudente, só arbustos espinhosos, liames enovelados entre os troncos das árvores, ou charcos traiçoeiros. Quando passo pelo deserto, só vejo areia, pedras, e o brilho do sol abrasador. Passo fome, passo cedo, sinto fraquezas, as vezes desânimos ou desespero, mas tenho que prosseguir. Depois que passo, fica o caminho, as marcas de minhas obras, das escolhas e dos atos. Um caminho que depois o tempo vai se encarregar de devolver à natureza e apagar as pegadas de minha passagem. 

quinta-feira, novembro 10, 2016

BOAS INTENÇÕES SÃO O CAMINHO MAIS CURTO PARA O INFERNO

Muitos acreditam que consertar o mundo e construir o paraíso perfeito é uma questão de vontade obsessiva de alguns e de subordinação de todos os outros; ainda, da eliminação direta dos contrários e com o triunfo da unanimidade.

Tem gente que acredita que o mundo só é imperfeito e sofrido por culpa dos outros. Caso esses outros aceitassem suas idéias e se dispusessem, pacificamente, a lhes obedecer, rapidamente o paraíso se estabeleceria na terra. A complicação é que esses “outros” pensam a mesma coisa daqueles primeiros.

terça-feira, outubro 04, 2016

QUANDO É POSSÍVEL SER CULTO?

Imagine alguém que vive na roça, na zona rural, longe de cidade, aquele que tira  seu sustento da terra. Talvez crie galinhas, porcos e gado leiteiro. Num mundo isolado desse estaria ele obrigado a  viver uma vida mentalmente pobre, absorvido em sua lida e sem tempo para ler um livro, conversar com gente culta, ouvir palestra sobre economia, quem sabe psicologia ou mesmo filosofia? Porque o lavrador deveria viver de seu trabalho assim como vivem as abelhas na coleta de néctar, com conhecimento suficiente da posição do sol, da direção do vento ou dos ciclos das estações? Não poderia ele adquirir musculatura mental assim como adquiri calos nas mãos e hipertrofia os músculos dos braços? Estaria condenado a aprender meramente datas para plantar couves,  ou qual a melhor época para semear feijões, decorar as fases da lua, dos dias de festas no povoado e da  missa na igreja de pau à pique?
Qualquer homem da roça sabe distinguir as primeiras folhas do milharal que nasce das brotas de capim ou de ervas daninhas. Mas sabe ele distinguir uma sonata de Beethoven de uma peça de Mozart, ou ainda, que o cavalo de tróia era de madeira e que a montaria  de Alexandre tinha o nome de bucéfalo?
Parece-me que em quase todas as partes do mundo, ser agricultor é sinônimo de vida tosca, embora romântica. Justamente aquele indivíduo que vive em contato com a natureza, ver todos os dias os pores de sol e todas as auroras, pode terminar por não perceber a beleza das nuvens formando fantasmas de roupas brancas e amareladas, contornadas por  bordas vermelhas. Talvez, por isso mesmo, por ter todas as manhas e todas as tardes defraudando arrebóis encarnados, que tudo acaba sendo sem importância. O homem não olha para o céu, nem perscruta o horizonte a não ser para ver se vem chuva ou se o dia vai ser quente.
Só quem perdeu todo  esse paraíso é que aprende a valorizá-lo. Aquele que vive entre fumaça de automóveis, horizonte bloqueado por arranha-céus, ruas coalhada de gente e de ruídos de trens e fábricas, pode, de uma hora para a outra, refugiar-se no meio de uma invernada ou no sopé da montanha. Então ouvirá o burburinho da correnteza do rio, o canto dos pássaros e desejará admirar o sol que desce deslizando sobre o morro irregular e escuro, e aí irá se emocionar e exclamar: como é belo!
O triste é que a vida no campo está associada à vida simples, pobre, ingênua, sem graça e vazia. Em minhas caminhadas pela borda da floresta ou atravessando rios a nado, lembrava que por conhecer os dois mundos, aprendi a buscar não só prazer no meio do “nada” como fazer desse nada, desse mundo de plantas, pedras, animais, insetos, um universo não só emocionante mais também cheio de belas e agradáveis surpresas. Quando me exercitei na lida de agricultor e ganhei o meu pão de cada dia plantando abóboras e alfaces, meu objetivo era não só o de cumprir um ritual de que tinha saudades como o de poder plantar feijão e depois ler Homero, saboreando a ambos com o mesmo prazer. Acreditei até que plantar uma roça de milho é tão filosófico, tão criativo quanto escrever uma tese sobre Spinoza ou descrever numa monografia as contradições da teoria da relatividade comparada à mecânica quântica.

De qualquer forma a maioria dos roceiros parece feliz e não sente falta de Aristóteles, de Spinoza, de Descartes e suas vidas. Os biólogos e os antropólogos dizem que os seres vivos adquirem conhecimento de seu meio como estratégia de sobrevivência e nada além do que precisam para manter-se vivos e se reproduzirem. Nesse caso alguns seres humanos fogem à regra, pois estão sempre se metendo em confusão, seja ela religiosa ou filosófica. Querem conhecer mais do que plantar trigo ou fugir de raios nas tempestades. Mas os lavradores que conheci estão mais de acordo com as explicações dos biólgos. A maioria vive feliz com seu mundo simples e delegam aos deuses e santos as tarefas que demandam conhecimentos ocultos ou difícil de serem adquiridos, já que seu mister não o exige, ou pelo menos assim acreditam.
Invejo essa simplicidade da vida campesina, marcada pelo contato direto e muito próximo com o mundo natural, quase inteiramente dedicada aos instintos de sobrevivência e a procriação. Pelo menos não sofrem a angustia daqueles intelectuais que perderam a inocência de viver, enroscados em tantas perguntas sem respostas. Cultivam certas preocupações que são boas  para provocar insônias.


Certa feita, fui a um velório no sertão e, como todo observador ressabiado, fiquei observando e ouvindo os presentes. O que notei foi uma total falta de medo da morte. Todos desejavam que o defunto descansasse em paz como se por toda a sua vida não tivesse encontrado momentos de repouso. Tinham uma visão quase fatalista da vida e da morte, ou melhor, viam a vida como constante labuta e a morte como aquele momento de repouso, o descanso sem volta, o alivio das dores e suores da existência.  Pelo menos não percebi neurose nessa filosofia tosca e resignada, em certo aspecto melhor que a minha. 

quinta-feira, agosto 25, 2016

FLORES SEM NOME

O quintal de qualquer casa está sempre sendo invadido por plantas, a maioria desconhecida, que chamamos de mato. 

O lavrador dá o nome de praga da roça.







Meu quintal não é diferente. Uma dezena de plantinhas nasceram e cresceram enquanto não tinha tempo para limpar o terreno. Algumas começaram a soltar flores e eu parei para admirá-las. Não eram plantas de jardim ou ornamentais, mas tinham pétalas lindas e não deixavam nada a desejar às rosas, aos cravos e as orquídeas.



Fiquei contente de não tê-las capinado.

quinta-feira, junho 09, 2016

VIAGEM COM POUCO DINHEIRO

Viajei para Itahum para conhecer a região. Levei dinheiro para comer alguma coisa por três dias e guardei o suficiente para pagar a passagem de volta à Itaporã. Não tinha sobra para ficar num hotel. Perambulei pela cidadezinha por algumas horas, comi um lanche simples num barzinho aconchegante e segui para os arredores. A cidade era  cercada pelo cerrado, terreno plano, arreia clara e árvores pequenas e esparsas.  Procurei uma parte deserta e calma para passar a noite. Com o cair da tarde, escolhi um local limpo, arenoso, com árvores retorcidas e moitas de capim barba-de-bode. Entre os ramos e touceiras destacava a superfície de areia muito fina, partes amarelo-amarronzado e  outras muito brancas. Lembrava um deserto só que mais vivo, mas verde e cheio de vida. Por um momento observei os pequenos lagartos correrem de um lado a outro e formigas perscrutarem as cascas das árvores. Era fim de tarde e um vento fresco começou a substituir o calor intenso do dia. Sentei-me no chão e abri minha mochila, disposto a escrever alguma coisa no meu caderno de anotações. Peguei a caneta, mas nada me vinha a mente. Aliás, uma multidão de coisas agitava minha imaginação, e nenhuma daquelas imagens associadas a sentimentos de toda sorte, demorava mais que alguns segundos. A luz diminuía constantemente.
Pensei comigo: vou dormir por aqui mesmo; quero alimentar-me dessa visão agreste por mais tempo. O terreno era incrivelmente regular e o horizonte parecia muito próximo. As pequenas árvores afastadas umas das outras balançavam delicadamente suas folhas ao toque da suave brisa do cair da tarde. Não lembro, exatamente, o que sentia. Tenho certeza apenas de que uma centena de sentimentos, misturados com visões coloridas e brilhos de luzes desconhecidas, tumultuavam minha cabeça. Mas era uma sensação gostosa, talvez uma embriaguez prazerosa. Pássaros silenciosos saltitavam por entre touceiras de capim, juntamente com as formigas e os lagartos apressados. Uma seriema piou ao longe, a oeste; outra respondeu, ao norte.
Passei a noite meio sentado na areia, as pernas, ora esticadas ora encolhidas,com as costas apoiada no tronco rugoso de uma árvore de folhas oblongas e ásperas.  Ouvi muitos ruídos que me assustavam, uivos e guinchados mais distantes que me obrigavam a abrir os olhos e a perscrutar a escuridão. A noite era relativamente clara, sem lua, mas com um céu tão cheio de estrela que elas pareciam mais baixas, mais próximas da terra. Tinha a sensação de que se levantasse, esticasse o braço para cima, poderia tocá-las.  De manhã, quando o brilho vindo do leste estendeu-se pelo campo, desejei agitar meus membros doloridos e caminhar na direção do meu destino.


segunda-feira, abril 25, 2016

RELIGIÃO E CIÊNCIA E A SUPERAÇÃO

CAPÍTULO AINDA SEM NÚMERO

Versículo 121 – Os seguidores de religiões cultivam a fé porque ignoram que a dúvida não mata. Se não temessem a morte, nem os demônios, nem a fúria dos deuses, não receariam de mandar antecipadamente seus padres, pastores e gurus para o inferno, mesmo sem acreditar no inferno.

Versículo122 – Qualquer religião que se preze precisa ter belos e suntuosos templos. Seus deuses são tão humanos que precisam de palácios, luxos e conforto; os súditos devem descalçar os pés e pôr-se de joelhos nesses lugares  sagrados. Precisam demonstrar algum tipo de submissão e obediência.

Versículo 123– Não podemos comprovar a inexistência dos deuses, embora as divindades que conhecemos são demasiadamente humanas para perdermos tempo com elas.

Versículo 130 – Quem condena as religiões não entende o papel que elas desempenham. São respostas provisórias para perguntas que ainda não tivemos coragem de fazer. São explicações de um mundo que ainda não aprendemos a suportar.

Versículo 131– Religião religa o ser humano ao mundo da natureza da qual nunca se desligou por absoluta impossibilidade, mas de que se sentia diferente e separado. Talvez por ter a capacidade de construí-la dentro do cérebro e isso causava tamanho terror que precisava domar, não a natureza que estava fora de si, mas a que havia construído dentro de si. A natureza dentro de si não podia ficar sem explicações, sem causa e efeito compreensível. Por isso que a ciência é uma continuidade da religião que substitui o dogma e a explicação arbitrária pela hipótese e pelo experimento; de certa forma a ciência não destrói a religião, vai além dela. Na verdade dá continuidade ao objetivo de diminuir o terror que o desconhecido, a mudança e o futuro incerto causam no ser humano


Versículo 132– O medo do trovão e do raio não era medo do trovão e do raio; era medo do poder do trovão e do raio. O ser humano precisava saber a natureza do trovão e do raio para poder, de alguma forma, descobrir um meio de evitá-lo ou domá-lo. Dizer que o trovão e o raio eram a manifestação do poder de um Deus qualquer foi o recurso inventado, primitivo e tosco, na tentativa de domá-lo. E aí estava o germe da ciência de hoje. 

segunda-feira, março 21, 2016

OS DETALHES DA FLORESTA


Estava observando o terreno perto das árvores, numa parte plana onde tenciono fazer alguns canteiros de verduras. Sempre admiro o viço das plantas, principalmente no verão, quando uma área limpa se cobre de mato e em pouco tempo cresce e logo ameaça transformar o que era antes uma terra exposta ao sol, novamente em mata. Num metro quadrado contei mais ou menos 35 tipos diferentes de plantas. Se deixar, passado alguns meses o mato já tem o tamanho de meio metro de altura.
Quando voltei para dentro de casa, vi que as pernas da minha calça estavam repletas de sementes que haviam aderido ao tecido de forma tão forte que precisei usar a unha para tirar uma a uma. Todo mundo sabe que muitas plantas criam mecanismos de semeadura extremamente sofisticados e desenvolvem pêlos na superfície das sementes para que algum passante, seja gente ou animal, arraste essas para longe, garantindo a disseminação e a perpetuação da espécie. Um caso clássico de semente que se agarra nas calças e peles das pessoas são os popularmente conhecidos "carrapicho" e "picão".
Todo  a imensa diversidade de artimanhas que as plantas usam para, primeiro viabilizar a fecundação, o cruzamento entre machos e fêmeas, usando aves, animais, insetos e o vento.
Depois vem o encanto dos recursos para viabilizar a disseminação, espalhar seus óvulos que são as sementes, da mesma forma usando os animais, as aves, os insetos e o vento.
Desse caso eu quero tratar aqui.
Na verdade é uma viagem instigante observar os mecanismos que as plantas usam para se disseminarem. Nunca me canso de estudar esses detalhes da natureza, tanto na variedade de recursos como nas miríades de formas extremamente criativas de propagarem seus descendentes. Como as plantas não andam nem podem criar seus descendentes assim como fazem os animais, dependem dos outros para se reproduziram. Só as inumeráveis maneiras de desenvolver soluções aerodinâmicas, atrativas ou adesivas já encantam quem tem a paciência de observar não só as grandes paisagem mas também os pequenos, as vezes quase invisíveis, detalhes dos sistemas de reprodução das plantas. Outro dia peguei uma semente de cedro, uma pequenina vagem com pestanas quase transparentes. Esse tipo de asa  serve para que, quando ela cai lá do alta da copa, o vento a leva para longe. Essa usa o vento, outras usam o apetite das aves e dos animais, outras usam coberturas adesivas como aquelas  que descrevi no inicio. As que desenvolveram cobertura comestível, também criaram cores chamativas e um núcleo resistente ao processo de digestão de animais e aves. Dizem os botânicos que certas sementes só nascem depois de passar pelo ataque do ácido do trato digestivo dos mesmos. O cedro que citei, como se sabe torna-se imensa árvore de 20, 30 metros de altura, mas sua semente é muito pequena e pesa somente algumas gramas. Mas, naquela minúscula semente armazena todas as informações de que precisa para nascer, desenvolver e se reproduzir.  Podemos dizer, meio grosseiramente, que cada semente é um micro-chip, contendo os dados genéticos e a programação de reprodução da árvore mãe.
Outro detalhe curioso é a abundancia de sementes que são produzidos anualmente por uma árvore. É coisa assombrosa. Contei o cacho de uma palmeira juçara e havia 456 coquinhos. Quando os plantei 80 por cento deles nasceram. E essa palmeira solta até quatro cachos por ano. Para não correr riscos, a natureza prefere exagerar na reprodução de seus descendentes. Uma figueira brava, por exemplo, dá tanto fruto que é praticamente impossível contá-los.
Essa superabundância de frutos não só garante a perpetuação de cada planta como garante o alimento de miríades de pássaros, aves, animais e do próprio homem. O que seria da humanidade se não houvesse essa abundância de grãos, frutas, legumes e castanhas?

Naturalmente qualquer um de nós chega a conclusão de que a vida não só é interconectada em seu conjunto biológico, quanto interdependente em sua troca de favores e de  dependências.

quinta-feira, março 10, 2016

VOLTA DOS MILITARES? SÓ OS DESMIOLADOS PEDEM ISSO

Se existe alguma coisa nesse pais que está sempre em falta e não é fornecido pelo estado é bom senso. Clamar pela volta dos militares é um absurdo tão grande de não consigo entender quem defende essa solução par eliminar o PT do poder. Os milicos tiveram 20 anos para erradicar o Brasil dos vermelhos e não conseguiram; eles voltaram mais forte do que nunca. O regime militar estupido e sem rumo, não teve a capacidade de consertar o país. Quando a batata esquentou jogaram ela no colo do comunas e em menos de vinte anos levaram o poder e os milicos humilhados, tratados à pão e água, mantiveram o rabo no meio da pernas e engoliram seco. Se os militares tivessem, pelo menos, um pouco de crença na liberdade, que é a única forma de um pais prosperar e eliminar a miséria, poderiam ter feito como Pinochet que trouxe uma equipe da Universidade de Chicago e deu rumo ao pais. Lá a esquerda mesmo quando conquista o poder não consegue mudar o legado dele. Pelo menos por enquanto. Hoje é um pais próspero. Os nossos militares arruinaram o pais, trataram os esquerdistas com luva de pelica, mataram o quê? duas dezenas deles, agoram tem que aguentar desaforo desses vermelhos, de bico calado. Vide a tal Comissão da Verdade. Pinochet eliminou milhares, alguns dizem que passaram de 20 mil, mas pacificou o país, deu rumo à sua economia, enquadrou os sindicatos e privatizou a previdência.
Repito, nada, na história do Brasil supera tanto incompetência, truculência e falta de cérebros como o regime militar. Portanto meus pesâmes aos que querem a volta dos militares, pela anemia dos neorônios ou pela leitura errada da história do Brasil

segunda-feira, fevereiro 29, 2016

A ESPIRITUALIDADE QUE NOS RESTA

Muitos  povos, como os egípcios da época dos faraós, adoravam o sol e o consideravam um Deus. Para esses povos, o fato de o sol todos os dias surgir no horizonte, expulsando a escuridão da terra, banhando os campos com sua luz dourada e quente, fazendo crescer as plantas e abrir as flores, só podia ser uma ação divina. Essa visão mágica dos fenômenos naturais tinha encanto e espiritualidade, sentimentos que as civilizações modernas não podem perder, sem que tenham enormes prejuízos psicológicos e sociais. A crença numa divindade atuando na natureza, como que cultivando os prados e  as florestas, assim como o ser humano faz com suas lavouras, era uma visão que envolvia mais que crença ingênua e mágica dos fenômenos físicos; respondia, também, a uma angustia espiritual diante das forças imprevistas das tempestades, dos terremotos e da cruel e permanente luta pela sobrevivênci. Afinal nossos antepassados viviam cercados por feras carnívoras e sob a fúria incontrolável da natureza.
Essa visão espiritual, o venerado respeito pela natureza, esteve presente na história da humanidade por longuíssimos períodos. É o que constatam os arqueólogos e sua incansável busca por registros ocultos pelas areias do tempo ou soterrados pela lama dos séculos. A humanidade deixou suas pegadas nessa aventura de milênios. Hoje eles escavam a terra e encontram vestígios de rituais, cochas, pedras buriladas, amuletos cizelados, colares, indícios de cultos às divindades naturais e até às feras da noite.
Mas hoje, sem religião, com a ciência descobrindo as razões e causas de todos os fenômenos naturais, não encontrando um deus ou uma força sobrenatural por trás das manifestações físicas, o que restará à humanidade?
Na verdade, a ciência não elimina o espiritual de maneira irreversível. Por que perderíamos a capacidade de admirar o poder do relâmpago, a beleza dos campos floridos, ou mesmo o encanto dos raios do sol passando por uma fresta das rochas enegrecidas da encosta da montanha? Entender porque o sol brilha, que há uma reação atômica em  seu interior cujo processo gera milhões de graus de calor e emite luz, não nos priva, necessariamente, de respeitar e admirar esse fenômeno fantástico de energia e força. Respeitar a natureza é compreender que apesar da enorme poder que a humanidade adquiriu com sua mente hiper-desenvolvida, ela não é capaz de alterar as leis da física, a velocidade da luz ou a presença da morte. A emoção e o prazer de admirar as flores da primavera não estão no mistério ou na ignorância das  leis da natureza; são características do  espírito humano e não se apagam com o conhecimento das mesmas e de como elas regem o universo. Pelo contrário, pode facilitar uma nova visão e gerar profunda reverência, em face dessas intrincadas e fantásticas leis. Afinal  somos, absolutamente, parte da natureza e não donos dela. Poderemos um dia saber quase tudo sobre ela, mas continuaremos sendo uma parte dela, e, se não a respeitarmos, ela nos varrerá da face da terra. 

sexta-feira, janeiro 22, 2016

PEPE O GAMBAZINHO CAMARADA

Os animais que não são domesticados são chamados de selvagens e normalmente as pessoas não tem nenhuma afeição por eles. Muitos sempre foram e ainda são caçados como alimento humano. Para piorar, com o acelerado desmatamento em toda parte, esses animais estão cada vez mais sem espaço para viver. Claro que para sorte deles, hoje há um forte movimento de preservação da natureza, o que trás alguma perspectiva de salvação para muitas espécies que caminham tragicamente para a extinção.
Mas um curioso e bastante misterioso animal tem desafiado as enormes mudanças que o meio natural vem sofrendo pela obra dos seres humanos e está aprendendo a, digamos assim, conviver com eles. Esse animal é o gambá, também conhecido por saruê.
Ficou comum encontrá-lo em forros de casas, caixas abandonadas no quintal, vãos de paredes e até em caixa de luz. Muitas pessoas imaginando ser ele um monstro devorador de gente, ataca-o furiosamente ou atiçam cães a matá-lo.
No entanto o gambá, cujas várias espécies foram agrupadas sob o nome científico de  didelfídeos, é um animal inofensivo e jamais morde muito menos come gente.
Outro dia apareceu em nosso quintal um filhote, debaixo da chuva, tremendo, quase sem forças para andar. Recolhemos o animalzinho e procuramos aquecê-lo o mais rápido possível. Minha companheira ficou encantada com o bichinho e o adotou de pronto. Deu-lhe o nome de Pepe e passou a, pacientemente, alimentá-lo com ovos batidos, frutas e ração para filhote de gato. Dormia o dia todo e mal acordava para comer. Em quatro semanas o gambazinho já estava esperto e assim que apagávamos as luzes da casa para dormir, ele começava a correr de um lado para o outro, a subir nos móveis e a entrar nas gavetas dos armários. Esperamos mais duas semanas e então resolvemos soltá-
lo, ou  melhor, deixá-lo escolher o mundo lá
fora.
Fizemos uma casinha forrada com panos felpudos e aconchegantes e a colocamos no sótão. Ali deixamos o bichinho para passar a noite. Pelo telhado havia passagens e uma janela sem vidros por onde ele podia sair e alcançar a mata que ficava a uns dez metros da casa. Por duas noites ele explorou todo o enorme sótão, mas não se aventurou a fugir. De manhã eu subia e ia direto à casinha. Abria o teto e o encontrava enrodilhado entre os panos, dormindo relaxadamente. Mas na terceira noite foi embora e não voltou mais. Gostamos de imaginar que vive por perto e a qualquer hora vamos topar com ele, andando pelo quintal no lusco-fusco da noite.