segunda-feira, março 21, 2016

OS DETALHES DA FLORESTA


Estava observando o terreno perto das árvores, numa parte plana onde tenciono fazer alguns canteiros de verduras. Sempre admiro o viço das plantas, principalmente no verão, quando uma área limpa se cobre de mato e em pouco tempo cresce e logo ameaça transformar o que era antes uma terra exposta ao sol, novamente em mata. Num metro quadrado contei mais ou menos 35 tipos diferentes de plantas. Se deixar, passado alguns meses o mato já tem o tamanho de meio metro de altura.
Quando voltei para dentro de casa, vi que as pernas da minha calça estavam repletas de sementes que haviam aderido ao tecido de forma tão forte que precisei usar a unha para tirar uma a uma. Todo mundo sabe que muitas plantas criam mecanismos de semeadura extremamente sofisticados e desenvolvem pêlos na superfície das sementes para que algum passante, seja gente ou animal, arraste essas para longe, garantindo a disseminação e a perpetuação da espécie. Um caso clássico de semente que se agarra nas calças e peles das pessoas são os popularmente conhecidos "carrapicho" e "picão".
Todo  a imensa diversidade de artimanhas que as plantas usam para, primeiro viabilizar a fecundação, o cruzamento entre machos e fêmeas, usando aves, animais, insetos e o vento.
Depois vem o encanto dos recursos para viabilizar a disseminação, espalhar seus óvulos que são as sementes, da mesma forma usando os animais, as aves, os insetos e o vento.
Desse caso eu quero tratar aqui.
Na verdade é uma viagem instigante observar os mecanismos que as plantas usam para se disseminarem. Nunca me canso de estudar esses detalhes da natureza, tanto na variedade de recursos como nas miríades de formas extremamente criativas de propagarem seus descendentes. Como as plantas não andam nem podem criar seus descendentes assim como fazem os animais, dependem dos outros para se reproduziram. Só as inumeráveis maneiras de desenvolver soluções aerodinâmicas, atrativas ou adesivas já encantam quem tem a paciência de observar não só as grandes paisagem mas também os pequenos, as vezes quase invisíveis, detalhes dos sistemas de reprodução das plantas. Outro dia peguei uma semente de cedro, uma pequenina vagem com pestanas quase transparentes. Esse tipo de asa  serve para que, quando ela cai lá do alta da copa, o vento a leva para longe. Essa usa o vento, outras usam o apetite das aves e dos animais, outras usam coberturas adesivas como aquelas  que descrevi no inicio. As que desenvolveram cobertura comestível, também criaram cores chamativas e um núcleo resistente ao processo de digestão de animais e aves. Dizem os botânicos que certas sementes só nascem depois de passar pelo ataque do ácido do trato digestivo dos mesmos. O cedro que citei, como se sabe torna-se imensa árvore de 20, 30 metros de altura, mas sua semente é muito pequena e pesa somente algumas gramas. Mas, naquela minúscula semente armazena todas as informações de que precisa para nascer, desenvolver e se reproduzir.  Podemos dizer, meio grosseiramente, que cada semente é um micro-chip, contendo os dados genéticos e a programação de reprodução da árvore mãe.
Outro detalhe curioso é a abundancia de sementes que são produzidos anualmente por uma árvore. É coisa assombrosa. Contei o cacho de uma palmeira juçara e havia 456 coquinhos. Quando os plantei 80 por cento deles nasceram. E essa palmeira solta até quatro cachos por ano. Para não correr riscos, a natureza prefere exagerar na reprodução de seus descendentes. Uma figueira brava, por exemplo, dá tanto fruto que é praticamente impossível contá-los.
Essa superabundância de frutos não só garante a perpetuação de cada planta como garante o alimento de miríades de pássaros, aves, animais e do próprio homem. O que seria da humanidade se não houvesse essa abundância de grãos, frutas, legumes e castanhas?

Naturalmente qualquer um de nós chega a conclusão de que a vida não só é interconectada em seu conjunto biológico, quanto interdependente em sua troca de favores e de  dependências.