terça-feira, setembro 29, 2015

DE ONDE VEM NOSSO ALMOÇO

Nunca cruzei com uma pessoa, na cidade, que tivesse interesse em saber como chegam a ele os produtos de seu almoço. A vida rural é que viabiliza a vida urbana, mas pouca gente se lembra disso. Um indivíduo que nasceu e vive numa metrópole raramente se detém para pensar como o feijão veio parar na sua panela ou como uma caixa de cenouras chegou à quitanda, de onde comprou. Um amigo contou-me que, ao visitar uma fazenda com seus dois filhos, esses faziam tantas perguntas sobre o que era o que viam que se sentiu o mais ignorante dos pais. O caçula do dono da fazenda teve que vir em seu socorro e pacientemente dedicou a tarde inteira a ciceronear as crianças pelos pastos, currais e lavouras. Os caipiras da cidade queriam saber, desde como o leito ia parar na caixinha de papelão, quanto porque o café era vermelho e não preto como aquele que estavam acostumados a tomar de manhã.   
O lavrador nunca foi exemplo de cultura e erudição, longe disso. A imagem que vem, espontaneamente, ao citadino é a do Jeca Tatu. Mas, embora a vida rural tenha representado, historicamente, o papel de reserva da ignorância e do analfabetismo, muita coisa mudou. Hoje, produzir alimentos para abastecer a cidade é um empreendimento como qualquer outro que se desenvolve numa grande cidade.

Mas o que desejo destacar é outra questão. Embora nosso país não tenha uma forte tradição de romantizar a vida junto à natureza, há, e de certa forma sempre houve, um pequeno contingente de pessoas que poetizam a vida da roça. Alguns com exagero, mas outros, sem fantasias irreais, defendem a escolha de viver num ambiente mais natural, sem poluição, sem ruídos desagradáveis e longe da correria das grandes metrópoles dos dias de hoje. Imagino que  é extremamente difícil encontrar alguém que não se emociona quando vê, no horizonte, entre os picos escuros das montanhas, um pôr de sol, com o céu pincelado de nuvens douradas e sem formas definidas sobre um fundo azul esmaecido. Nesse momento pode olhar ao redor e admirar as matas e os pastos salpicados de gado branco e pequenas torres de terra dos cupins operosos. É uma satisfação que não se consegue sentir na cidade e seu horizonte de arranha céus.