Abel Aquino
Hoje, dialogando com um eleitor da Dilma ouvi, em alguns
minutos, todos aqueles chavões da esquerda brasileira. Disse ele que a
Petrobrás é do povo, é patrimônio da nação, que acredita que a Dilma não sabia
de nada e que vai recuperar a empresa. Disse que só o PT preocupou com os
pobres e que o PSDB é partido da elite. Para espantá-lo um pouco eu afirmei que
admirava saber que ele se sentia dono da Petrobrás porque eu era incapaz de ver
minha parte naquela empresa. Com que base ele afirmava que ela é do povo? Não
soube Responder. Disse a ele que todas as acusações de que o PSDB é
privatizante e que queria vender a Petrobrás me decepcionaram. Me decepcionaram
porque sabia que não era verdade, pois tinha certeza de que o PSDB é tão ou
quase tão estatizante quanto o PT. Por mim, acabaria com todas as estatais do
pais, privatizaria tudo. Ele arregalou os olhos.
Eu perguntei: se a corrupção dominar a empresa em que você
trabalha,o que acontece? Ela quebra, não é? Quebra e fecha. Agora quando um
dirigente de uma estatal desvia dinheiro
até deixá-la a míngua, o que acontece? Ela quebra e fecha? Respondeu que não.
Pois, então, continuei, toda e qualquer estatal corre, permanentemente, o risco
de tornar-se instrumento de uso político. Desvirtuar a função de uma empresa
por interesses particulares é fácil quando essa empresa está sob controle de
governantes ávidos de poder ou que querem obter altos beneficio com o uso
desse poder. O rapaz abaixou a cabeça e balançou os braços, visivelmente
incomodado. Então considerei a conversa por encerrada, certo de que não
tinha conseguido abalar suas convicções.
Eu sempre fico estarrecido quando encontro alguém que
acredita que a Petrobrás é nossa, considerando esse “nossa” como todos os
brasileiros. É uma crença tão sem base real quando a crença no Papai Noel,
entanto persiste altaneira e sem arranhões ao longo de décadas, como verdade
tão sólida quando a ingenuidade média do povo.
Juro que tentei, por meio de repetidos momentos de meditação
e atos de renuncia, sentir-me parte da Petrobrás, talvez imaginar qual parte
daquelas torres fumacentas, daquele enormes tanques cheirando betume, daquelas
imensas plataformas balouçando no mar, mas fracassei.Não descobri nenhuma
maneira de ver, apalpar ou reinvindicar a parte da empresa que me pertece como
cidadão brasileiro, pagador de pesados e sufocantes impostos.
Há muito tempo desisti de acreditar, se é que alguma vez
acreditei, que tenho alguma parcela, por menor que seja, da Petrobras. Para mim
sinto-me que ela é tão parte de mim quanto um iceberg que se desprende da
calota polar no verão. Sou tão obtuso
que não consigo perceber qual seria a diferença de abastecer meu carro com
gasolina feita por uma empresa brasileira ou por qualquer outra. Sei que não há
dificuldade nenhuma em perceber que me interessa a qualidade desse combustível,
em primeiro lugar e, em segundo, o quanto pago por ele quando vou abastecer o
carro. Qualquer pessoa com um mínimo de
cultura econômica sabe que o preço que pago é determinado por duas condições,
que os economistas chamam de variáveis, ou seja, quanto se produz e quanto se
compra. É a mecânica da oferta e da procura. Se tem mais gasolina pra vender e
menos gente pra comprar o preço tende para baixo, se há menos gasolina e mais
consumidores, o preço tende para cima. Outra coisa, a oferta depende de quantos
a oferecem; se só um produz e vende, ele pode manipular o preço e sacrificar a
demanda. Se só alguns produzem e vendem, esses podem estabelecer um conluio,
controlar a oferta e, com isso, distorcer os preços a seu favor. Já quando
muitos produzem e muitos vendem, o
consumidor passa a ser privilegiado, tem até certo ponto, poder de ditar os
preços. Todas essas situações podem acontecer independentemente de serem os
produtores nacionais ou estrangeiros. Dizer que é um bem incalculável poder se
vangloriar de ter uma gigante petroleira, puramente nacional, e que nos
abastece carinhosamente com bom e barato combustível, é contar piada de mal
gosto. Por muitas razões isso é um engodo. Nossa gasolina não é a mais barata
do mundo e muito menos a melhor. Pelo contrario, os carros importados precisam
de custosas adaptações para funcionar com esse nosso combustível de quinta
categoria. 24/10/2014