quarta-feira, fevereiro 17, 2021

SÓCRATES ENSINAVA HUMILDADE

 

Numa manhã de chuva, daquelas que persistem todo o dia, resolvi voltar a ler sobre Sócrates. Da janela podia ver as árvores da mata e suas folhas molhadas, oscilando sob o impacto das gotas d’água. Meu desejo era imaginar a mim mesmo, apoiado nas informações que temos e nos escritos que chegaram até nós, perambulando pelas ruas poeirentas de Atenas num dia qualquer do alto verão. Encontraria Sócrates sentado num banco de pedra, à sombra  das árvores  e conversando com seus amigos. Pelos relatos, sua aparência era inconfundível.

 

Sócrates admitia que seria incapaz de ensinar qualquer coisa a alguém, principalmente por dinheiro. Na apologia cita o caso de Cálias de Hipônico que admitiu que iria pagar 5 minas para Éveno de Paros, para educar seus filhos. Ouvindo isso Sócrates declarou: “o certo é que eu também me sentiria altivo e orgulhoso, se soubesse tais coisas (capaz de vender ensinamentos); entretanto, o fato é que não sei”.

 

 

Uma idéia revolucionaria de Sócrates até hoje ainda não foi assimilada pelo povo, ou pelo menos nunca foi posta em prática, seja pelos intelectuais, seja pelos políticos, seja pelos mestres e ensinadores. É a de que sábio é aquele que sabe até onde sabe e que consegue imaginar o quanto ainda não sabe. Sábio é o relativista que se preocupa não com o que aprendeu, mas com o quanto precisa aprender para poder formular alguma regra ou conceito válido ou útil.

 

Sócrates percebeu, já faz mais de dois mil anos, que as pessoas especialista em alguma área do conhecimento se sentem sábias em qualquer outra coisa,  e assim são consideradas pelos outros. De vez em quando vemos grandes cientista manifestando opiniões sobre disciplinas que desconhecem. O povo acha que um médico notório no seu saber e com habilidade cirúrgica é também hábil em política ou psicologia. Este equivoco persiste intacto nos tempos atuais.

Ou seja, as pessoas não conhecem os limites de seu conhecimento ou de sua inteligência e portanto, conforme Sócrates, não são sábias.