sexta-feira, fevereiro 27, 2009

O JANTAR E A ESPERA

Abel Aquino

Maria estava contente. Havia encontrado Camilo na casa da Joana. Este estava muito alegre e conversador, o que não era comum. Maria aproveitou para aproximar-se dele e a seu lado pode trocar elogios e gracejos. Camilo nunca a olhara daquele jeito, intenso, penetrante e sempre com leve sorriso nos lábios.
Na verdade a paixão de Maria por aquele homem surgira com a indiferença com que deitava olhares nela. Maria era muito bonita, corpo forte, alta, morena clara, cabelos longos e brilhantes. Todos os rapazes do povoado a cortejavam. Mas Camilo não. Isso enlouqueceu Maria; a imagem viril do homem, seu ar orgulhoso e displicente não saia da sua cabeça.
Com muito cuidado Maria aproveitou a intimidade para convidá-lo a ir jantar na sua casa.
- Posso preparar um jantar especial para você, concluiu ela.
- Hoje não posso, desculpou-se Camilo. – mas amanhã vou experimentar da sua comida, concluiu, com aquele leve sorriso.
- Amanhã, no final da tarde, `tá bom? Perguntou ela.
- Estarei lá, respondeu, Camilo.
Na manhã seguinte, Maria das Dores acordou feliz; todos os afazeres do dia seriam um nada em face da oportunidade de preparar um jantar para o homem que mexia com seu coração.
Desde que a mãe morrera, Maria cuidava da casa como se ainda estivesse cheia de gente. Seu irmão raramente dormia ali, mas sua cama, suas roupas, o chinelo, a toalha pendurada, tudo estava sempre pronto para ele quando aparecia. A maior parte do tempo Maria vivia solitária naquela enorme casa, sem mais que amigos e amigas que no avançar da noite iam embora para suas respectivas moradas e ela dormia sozinha. Tivera um namorado, na verdade, noivo, mas quando falavam em data do casamento, Maria descobriu que ele tinha outra em Orizona. Por um bom tempo o mundo ficou sombrio; ainda bem que nessa época sua mãe ainda era viva e nunca a deixou entregar-se à alguma loucura.

O tempo passou, a mãe morreu e foi enterrada ao lado da sepultura do pai. Depois Maria conheceu Camilo, o domador de cavalos. Apesar da indiferença dele ou talvez por causa disso, foi amor a primeira vista.

Naquele dia, ao cair da tarde, Maria já havia assado um frango, enfeitado a travessa de arroz com folhas de alface, mandioca cozida com pedaços de carne de vaca, travessa de queijo branco com cebolinha verde e uma garrafa de vinho que buscara na venda do Alípio.
A mesa estava enfeitada com toalha quatro cores, as extremidades bordadas a mão e pequenas flâmulas de pano branco descansavam no espaldar das cadeiras.
Maria ajeitou os talheres com carinho, guardanapos dobrados e um pequeno vaso com rosas brancas e vermelhas, colhidas à pouco.
Por um momento percorreu com o olhar a mesa arrumada e, vendo tudo em ordem, foi para a sala esperar o convidado. Sentou-se no banco e aguardou.
As horas passaram e a escuridão chegou. Acendeu a lamparina e voltou a sentar. Deu sete horas, oito horas, nove horas e Camilo não aparecia. O coração de Maria estava doendo, suas mãos suavam, seus olhos ardiam encanto tentava ver o meio da rua.
Passavam cavaleiros, casais apressados, crianças corriam de um lado a outro, mas a figura de Camilo não surgia na soleira da sua porta.
Quando Aninha apareceu Maria deu um salto e foi a seu encontro.
- Aninha, `ocê não viu o Camilo? Perguntou desesperada.
- O que houve? Retrucou Ana.
- Ele ficou de vir jantar comigo... concluiu Maria.
- Ah! Acho que não vem... não. Gaguejou Ana.
- Como assim?

Ana deu um passo para trás e meio insegura explicou:
- Vi ele ainda agora, bebendo com a rapaziada no boteco do Juca... tinha até umas mulheres no meio deles.... acha que era a Mirtes e duas outras. Eles estavam muito alegres... riam e cantavam, dançando e cambaleando.... todos com cara de muito bêbados, arrematou Aninha.
O mundo veio abaixo para Maria. Suas pernas tremiam de decepção e raiva. Agarrou os ombros da amiga, encostou a cabeça e desandou a chorar desesperadamente.