quinta-feira, dezembro 09, 2021

LIVROS PREFERIDOS - WALDEN

 WALDEN  de Henry David Thoreau


                                este está desgastado pelo uso  -  este outro enfeita a estante

Este primeiro livro, em formato de bolso, comprei em 1976 quando tinha 20 anos e o li como se estivesse lendo a bíblia, com a diferença de que lia a bíblia meio que por obrigação dos pais e depois, só com o tempo, por curiosidade. Walden, li cada página com profunda emoção. Sentia queThoreau era meu irmão espiritual, uma alma gêmea, pois em cada frase eu via estampada o mundo que percebia, mas não achava palavras para expressar. Thoreau meu deu essas palavras, auxiliou-me a consolidar os pensamentos e a construir minha própria filosofia de vida.

É claro que passada aquele euforia, me vi caminhando por outras paragens, outros personagens surgiram em minhas leituras. Hoje eu vejo Thoreau como um indivíduo reativo, que negava a sociedade a sua volta, mas sem radicalismo como contraponto. Talvez esse seja o encanto que permanece; criticava seus contemporâneos, mas com certa dose de afeição, sem ódios ou revolta.  Thoreau tinha bom humor e o bom humor é a mais poderosa vacina contra fanatismos e intolerância. Ele tinha um pé no sonho e outro na realidade.

Há uma cena que diz muito sobre sua ironia quase socrática. Quando  os parentes e amigos perceberam que Thoreau estava a beira da morte, atacado  pela tuberculose que destruía seus pulmões, chamaram o pastor  para rezar por sua alma.  Enquanto gemia e tossia em seu leito, o pastor, que sabia de suas duras críticas a religião e ao cristianismo em particular, disse: filho, está na hora de você fazer as pazes com Deus. Ao que Thoreau retrucou num gemido: que eu saiba, nunca briguei com ele. Assim era esse fantástico pensador. Até na hora da morte conseguia manter o bom humor e conseguia proferir sua ferina e fria ironia.

terça-feira, novembro 16, 2021

SER PACIFISTA OU BELICISTA?

 

Imagino que é de suma importância eu ser o melhor dos pacifistas quando entre os pacifistas e o melhor dos guerreiros quando me deparar com belicosos inimigos.

O significado desse pensamento está claro: o melhor comportamento humano é o da flexibilidade. Portanto, que eu esteja sempre adaptado às circunstâncias e não preocupado com princípios se estes forem inadequados ou quando as circunstâncias mudam. Aceitar as mudanças é uma forma de preservar a flexibilidade mental. Não faz nenhum sentido combater a guerra, ostentando ódio aos espíritos conflitivos, ou organizando um movimento do tipo “sou da paz”, vestir-me de branco e enfrentar o mundo com flores.

O que importa é compreender o meio ou o momento que se enfrenta; se é um meio pacifico não faz sentido  ser belicista nesse ambiente. Se meu objetivo é viver bem na comunidade e usufruir dos benefícios de ser membro dela, e inapropriado semear a discórdia e os conflitos, achando que dessa forma vou alcançar benefícios ainda melhores. No longo prazo, uma sociedade sob constante e mútua agressão entre seus membros, não subsiste.

A paz, muitas vezes, é uma estratégia vital de sobrevivência. Tudo depende do contesto ou das circunstâncias. Quando me vejo numa sociedade em que sobreviver dependo de luta e de imposição de alguns sobre os outros, negar-se a lutar é aceitar a submissão e a uma vida de escravo. Se minha sociedade está sendo atacada por forças externas, evocar um espírito de paz é sinônimo de abdicar, de se submeter ao arbítrio de outros.

Por isso que em tempo de guerra é melhor ser um bom guerreiro e em tempo de paz, levantar a bandeira branca do espírito anti-belicista.  


sexta-feira, julho 23, 2021

INTELIGÊNCIA VERSUS SABEDORIA

 

É importante trabalhar a questão da diferença entre “inteligência e sabedoria” visto que, nos tempos atuais, a palavra sabedoria entrou em quase desuso e com isso a diferença entre ambas as expressões também se esvaneceu.  E isso é lamentável.

Inteligência é um componente da sabedoria, mas não é sabedoria. Sábio, podemos dizer que é todo aquele que antes de agir ou falar mede as conseqüência posteriores e tem inteligência suficiente para saber se essas conseqüências serão boas ou más. 

Inteligente é aquele que aprende rápido, domino conhecimentos úteis. Por exemplo, uma pessoa pode ter o domínio da matemática, da música ou da marcenaria, isso é ser inteligente nessas questões. Já sabedoria tem um sentido abrangente, não especifico. O sábio entende a natureza humana e sabe como agir sem negá-la ou condená-la. Usa a inteligência para compreender, Isso quer dizer que compreende que é um produto da história, que vive as conseqüências das escolhas de gerações passadas. Portanto seus recursos para mudar a realidade são limitados, quando não impotentes. Sabe que o que sabe da vida é muito pouco, diante da sua imensa ignorância. Como diria Sócrates, o filósofo grego de século V antes de Cristo: Só sei que nada sei. Sócrates conhecia suas limitações, por isso era um sábio.

Sábios foram Confúcio, Lao tzé, Sócrates, Jesus, Epicuro e tantos outros. Inteligentes foram Aristóteles, Copérnico, Galileu, Newton, Einstein.

 

quarta-feira, junho 09, 2021

A LINGUAGEM MUDOU TUDO

 

Os seres humanos criaram a linguagem para se comunicar entre si e isso mudou tudo. Com a linguagem criou-se um fosso enorme entre nós e os parentes mais próximos como os chipanzés. A linguagem propiciou uma eficiente e fantástica forma de transmitir conhecimento de uma geração para outra. Assim nasceram as ferramentas a agricultura, as invenções facilitadoras da vida e também as armas para caçar, defender e matar rivais. Com a linguagem foi possível chegar aonde chegamos com esse mundo tecnológico, computação, robótica e telecomunicação. A linguagem também evoluiu para encantar, cativar, dissimular, criar poderosas religiões e sofisticadas ideologias. Favoreceu também as estratégias de guerra, de execuções, de invasões, de planejamento de extermínios de povos indesejáveis. A lista é infinita, tanto de coisas boas quanto maléficas.

A lista de maldades saídas dessa caixa de pandora é tão grande que dá vontade de querer voltar à época em que nossos antepassados só gruíam, gritavam e gesticulavam; guerreavam apenas com punhos, pedras e porretes de pau.

terça-feira, junho 01, 2021

A FILOSOFIA DE USO, UM SABER DE USO

 


 

Nosso esforço é o de resgatar o sentido antigo de filosofia, que é o do amor a sabedoria, e que esse amor à sabedoria pode ser a forma de se alcançar uma maneira de viver o mais saudável possível, tanto física e social, quanto mental. Entendemos que essa foi a missão de Sócrates, o filósofo de rua da antiguidade grega, que dedicou sua vida a beliscar os outros para que procurassem por si mesmos o “saber viver”.

 

Só não é nosso propósito criar uma ideologia, uma interpretação fechada e completa da vida, mas, sim, estabelecer um filosofia de vida, formada por um conjunto complexo de  comportamentos filosóficos.

 

Resumindo: uma maneira filosófica de viver.

 

Mas o que é uma maneira filosófica de viver? Essa postura pode ser definida práxis de vida, praticada por meio da reflexão, da inspeção detalhada de cada questão, da análise antes de qualquer julgamento - seja ele moral ou técnico - uma análise, em fim, que não busca a explicação mas o conhecimento da  coisa. Para cada fenômeno eu pergunto o que é isso e não como explicar o que é isso?

Ao longo da história da humanidade, buscaram-se explicações. A era da ciência suspendeu a explicação antecipada ou justificadora das coisas e passou a destrinchar, investigar os fenômenos e conhecê-los no que são, independente de qualquer crença, explicação ou julgamento.

Assim, em nossa busca do saber de uso, ou seja, do saber para uso prático da vida, essa busca só dará resultados para aqueles que estiveram aquém ou além das explicações e dos julgamentos peremptórios ou dogmáticos.

quarta-feira, maio 26, 2021

A IDEOLOGIA DO PASTOR DE OVELHAS

 

Sabe o que é mentalidade do “pastor de ovelha”?

É aquela ideologia que prega que o mundo é dividido em três classes: ovelhas, lobos e pastores.

Quem prega essa mentalidade é quem se vê no papel de pastor. Quem acredita nessa mentalidade é aquele que se sente fraco e impotente; este se agarra na crença de que o pastor o protege dos lobos. As ovelhas vêem o pastor como protetor, mas não percebem que só valem alguma coisa enquanto servirem para lhe dar lã que o protege do frio e carne para matar sua fome. Quando não há predador o pastor inventa lobos para não perder seu posto privilegiado.

quarta-feira, maio 12, 2021

NÃO SE NEGA A VIDA IMPUNEMENTE

 Quem leu Nietzsche e não apreendeu a mensagem principal de seus escritos que é a de que ”ninguém nega a vida impunemente”, não aprendeu nada. Abraçar a utopia de que a vida é amor, solidariedade, cooperação, pacifismo, harmonia com a natureza e altruísmo extremo é a forma mais vulgar de negar a vida e, por conseguinte, de sacrificá-la. O ser humano não é santo, mas também não  é demônio, não é guerreiro o tempo todo ou pacifista em qualquer circunstância. Sonhar com um mundo cor de rosa leva ao risco de querer transformá-lo em cor única, monocromático, eliminando todas as outras cores, e esse é o primeiro passo para se destruir a vida verdadeira.

quinta-feira, abril 29, 2021

HIPERATIVIDADE MENTAL E BOM HUMOR

 Quando se estuda a história da filosofia, é uma constante o problema enfrentado pelos pensadores em função de nosso cérebro hipertrofiado. Pensamos demais, trazemos o passado e imaginamos o futuro. Se nosso passado foi trágico, projetamos um futuro tenebroso. Estamos presos nesse desespero da mente hiperativa. Sair dessa armadilha foi, historicamente, muito difícil e raro. Poucos homens conseguiram conviver com o ritmo frenético de seus pensamentos. Esses poucos indivíduos que conseguiram conviver com a hiperatividade mental e dar-lhe um rumo construtivo e fecundo, eu os chamo de sábios. 

Adoro o sábio que ri. Os humoristas estão, quase todos, de bem com a vida; em vez de ver o lado trágico da vida passada, presente ou projetado no futuro, eles encontram e cultivam o lado cômico das coisas. Há! como é bom rir da estupidez humana e, principalmente, da nossa própria estupidez. Um indivíduo alegre e bem humorado nunca será candidato a ditador.

quarta-feira, abril 21, 2021

HÁ MOMENTOS DE.....

 Há momentos de competir e há momentos de cooperar;

Há momentos de plantar e há momentos de colher;

Há momentos de pratear e há momentos de regozijar;

Há momentos de trabalhar e há momentos de descansar;

Há momentos de juntar e há momentos de espalhar;

Há momentos de falar e há momentos de calar;

Há momentos de lutar e há momentos de selar a paz;

Há momentos de acreditar e há momentos de duvidar;

Há momentos que se perde e há momentos que se ganha;

Pois  saber o momento de cada coisa é o principio da sabedoria.

quarta-feira, fevereiro 17, 2021

SÓCRATES ENSINAVA HUMILDADE

 

Numa manhã de chuva, daquelas que persistem todo o dia, resolvi voltar a ler sobre Sócrates. Da janela podia ver as árvores da mata e suas folhas molhadas, oscilando sob o impacto das gotas d’água. Meu desejo era imaginar a mim mesmo, apoiado nas informações que temos e nos escritos que chegaram até nós, perambulando pelas ruas poeirentas de Atenas num dia qualquer do alto verão. Encontraria Sócrates sentado num banco de pedra, à sombra  das árvores  e conversando com seus amigos. Pelos relatos, sua aparência era inconfundível.

 

Sócrates admitia que seria incapaz de ensinar qualquer coisa a alguém, principalmente por dinheiro. Na apologia cita o caso de Cálias de Hipônico que admitiu que iria pagar 5 minas para Éveno de Paros, para educar seus filhos. Ouvindo isso Sócrates declarou: “o certo é que eu também me sentiria altivo e orgulhoso, se soubesse tais coisas (capaz de vender ensinamentos); entretanto, o fato é que não sei”.

 

 

Uma idéia revolucionaria de Sócrates até hoje ainda não foi assimilada pelo povo, ou pelo menos nunca foi posta em prática, seja pelos intelectuais, seja pelos políticos, seja pelos mestres e ensinadores. É a de que sábio é aquele que sabe até onde sabe e que consegue imaginar o quanto ainda não sabe. Sábio é o relativista que se preocupa não com o que aprendeu, mas com o quanto precisa aprender para poder formular alguma regra ou conceito válido ou útil.

 

Sócrates percebeu, já faz mais de dois mil anos, que as pessoas especialista em alguma área do conhecimento se sentem sábias em qualquer outra coisa,  e assim são consideradas pelos outros. De vez em quando vemos grandes cientista manifestando opiniões sobre disciplinas que desconhecem. O povo acha que um médico notório no seu saber e com habilidade cirúrgica é também hábil em política ou psicologia. Este equivoco persiste intacto nos tempos atuais.

Ou seja, as pessoas não conhecem os limites de seu conhecimento ou de sua inteligência e portanto, conforme Sócrates, não são sábias.