sábado, dezembro 24, 2022

AS FORÇAS QUE SUSTENTARAM AS LOUCURAS DE HITLER

 

Quando culpamos Hitler pela loucura de levar o mundo à maior e mais sangrenta guerra que jamais houve na terra, esquecemos que este era apenas a ponta de um iceberg, um psicopata que se apoiava em amplas forças de elites cínicas, oportunistas, imediatistas, cruéis e desumanas forjadas por gerações passadas, numa tradição de arrogância, de sentimento de superioridade racial e mentalmente formada para culpar outros por seus erros e sua insensatez.

 Hitler e as forças que o sustentaram não conheceram obstáculo na ampla sociedade formada por indiferentes, ingênuos, ignorantes e acovardados cidadãos comuns.

quarta-feira, novembro 16, 2022

CRISTIANISMO PRIMITIVO - MANTER A UNIDADE OU DIVIDIR-SE?

 Nietzsche percebeu bem que o cristianismo nasceu entre o populacho. Esse movimento fez o povo comum, sem poder e vítima de todo tipo de arbítrio, sentir-se além desse mundo, pertencente a outro reino, governado por um rei mais poderoso do que todos os reis da terra. Ao sentir-se como membro de um mundo do além, manifestava profundo desprezo pelo mundo real da política, das guerras, das contendas e brutalidades. Isso causava furor nos governantes da época; daí a perseguição implacável que aplicavam. Mas o movimento prosperou. As perseguições e execuções eram encaradas como confirmação de que pertenciam a outro mundo, de que outro reino, agora de paz e justiça, o aguardava de braços abertos.

Só que a prosperidade do cristianismo gerava, como sob-produto, seu enfraquecimento. Logo formou uma elite acima da massa de crentes fieis e dedicados. Essa elite tomou para si a obrigação de zelar pelos princípios de seu evangelho e todo desvio de interpretação e prática religiosa era encarado como ofensa à suas crenças ou contestação aos dirigentes. Começou, então, a perseguição interna ao movimento.

Na busca de poder para impor unidade ao incipiente cristianismo, sua elite começou a sentir que precisava ter poder, e procurar o imperador romano foi uma conseqüência dessa necessidade.

Portanto, a passagem de igreja perseguida para igreja perseguidora de hereges foi motivada por uma necessidade que os dirigentes sentiam de impor uma unidade de crença ao movimento.

Se compararmos o cristianismo primitivo, e essa mutação criada pelo conluio com o poder terreno, representado pelo decreto do imperador Constantino, e incluir o movimento da reforma protestante, vemos que este último não tinha um império monopolista a que se agarrar e para manter a unidade de sua dissidência. Daí que os protestantes de dividiram em muitas seitas e sub-seitas.

Não tivesse o cristianismo inicial optado pela estatização de seu movimento teria dividido em inúmeras profissões de fé e, provavelmente não teríamos passado por um alongo período do absoluto monopólio e tirania do catolicismo, período esse conhecido por “idade média”. 

quarta-feira, novembro 09, 2022

NÃO PERDER O CONTATO COM A REALIDADE

 Conhecer é interpretar o que sensibiliza nossos sentidos, processado pelo cérebro em forma de interpretação da realidade. Mas ao subtrair os dados da realidade, a mente cria um mundo próprio, quase independente.  É aí que surgem as distorções, os vieses, as tendências. Isso é inevitável. Podemos apenas minimizar essas distorções, nunca anulá-las. Assim, para construir uma realidade mental que não entre em conflito com a realidade que está fora de nós, dedicamos incansavelmente a ajustar, a rever, a aperfeiçoar nossas interpretações do mundo. Uma crença nada mais é que uma interpretação abstraída da realidade e congelada no tempo e no espaço. Uma convicção que se  sustenta em possibilidades, em certezas temporárias pode evoluir, corrigir-se, adequar a novos dados. Já uma crença pode estar apoiada em dogmas e o ser humano gasta suas energias, não em aperfeiçoá-la, mas, sim, em justificá-la permanentemente.

quinta-feira, junho 16, 2022

EUDAIMONIA

 Os estóicos, ao confiar que por trás da natureza humana está a razão, continuaram dividindo o  ser humano entre sua natureza e a consciência dela, como se sem a consciência e com ela a capacidade de usar a razão para se controlar, o ser humano não passaria de uma besta fera. Embora advogavam uma espécie de vida natural, em conformidade com a sua natureza, apelava para o uso da razão para controlar sua própria natureza. Isso é uma contradição  que vemos no Cristianismo, por exemplo, que substitui a razão pela fé, pela obediência a normas sagradas.

A felicidade não tem como ser permanente. Então não existe a possibilidade de se ter uma vida feliz, ou viver permanentemente num clima de felicidade. A felicidade são momentos, fazes curtas de nossas vidas.

Se eu tiver uma dor de dente, não posso estar ao mesmo tempo feliz. A vida é competição, risco, perigo, atacada constantemente por bactérias, vírus, fugos, protozoários, e tantos outros invasores de nosso corpo, sem contar com as ameaças vinda do meio ambiente, dos acidentes, dos acasos, da sorte ou falta dela. Como viver permanentemente  feliz?

Pefiro falar na boa vida. Meu esforço para criar um modo de vida que facilite a conquista e a retenção de uma vida satisfatória. Essa boa vida é a  “eudemonia” que aplico como sinônimo de “boa vida” e não de felicidade como comumente se traduz.

Então a “eudemonia” é nosso objetivo que não se alcança por meio de exercícios, esforço de vontade, obediência a preceitos ou controle das paixões e instintos.

A busca pela “eudemonia” é indireta. Na realidade, acreditamos que ela se estabelece espontaneamente a partir do momento em que adquirimos ciência das coisas e de nós mesmos. A “eudemonia” é fruto da busca de conhecimentos e da incorporação deles por nossa mente.

Antigamente os seres humanos viviam dominados pelo medo, pois ignoravam muitas coisas e o desconhecido sempre apavora. Perdemos o medo psicológicos dos fenômenos naturais quando entendemos o que são e como se manifestam. Para os raios criamos o para-raios e aprendemos como evitar ser atingidos por ele. Isso diminuiu nossas fontes de medos.

sábado, maio 07, 2022

AS LIÇÕES DE SABEDORIA DO COTIDIANO

 

Uma coisa que tentei ajustar, em meu pensamento, foi a de que, diferentemente dos pensadores antigos e principalmente dos teólogos do cristianismo, foi a concepção de que qualquer fenômeno a minha volta, qualquer que  seja, ou mesmo pensamentos vindo  à mente tem significado e sentido, portanto importa valorizá-lo, trazê-lo ao palco das meditações. A vida cotidiana é o mais fértil terreno para praticar o autoconhecimento e apresenta, constantemente, e a toda hora, lições de vida e de verdades que não faz sentido algum ignorar.

Os religiosos, principalmente da versão cristã, tem uma tendência para desprezar os acontecimentos e fatos do cotidiano, comuns da vida humana e como vulgares, sem valor, até mesmo vis e rasteiros. O que tem valor é pensar na espiritualidade, é meditar sobre o sagrado, sobre uma vida superior,  ideal ou coisa desse tipo.

Mas escapando desse dualismo, prefiro cultivar uma vida em que o cotidiano e as reflexões mais elevadas sejam partes de meu trabalho de busca do conhecimento da “verdade”. Observar a vida do individuo comum e estudar a vida dos grandes sábios são partes indissociáveis da formação de uma mente que deseja  estar sempre o mais perto possível da realidade, do mundo natural, quero dizer que sem me aprisionar às interpretações difundidas por outros seres humanos. Observar a vida como inédita, antes de qualquer explicação corrente ou julgamento ideológico, é impossível, pois minha mente já está formada ou faz parte dessa cultura na qual nasci e cresci. Negar as fundações culturais onde apoiei meu edifício de conhecimentos é como tentar negar a língua materna e criar outra própria. Portanto não desejo negar meu passado e a forma de pensar que adquiri; o objetivo é o de superar, é de ir além com liberdade, com ousadia e perseverança. A partir da interpretação do mundo que herdei, tentarei edificar uma estrutura de conhecimento que me leva a verdade, à realidade das leis da natureza, sem me limitar ou usar pré-conceitos.

Não pretendo construir uma nova interpretação da realidade, mas, sim, conhecê-la antes e depois de qualquer interpretação. É claro que isso também seria uma interpretação, pois existe esse dualismo entre o eu que percebe e significa as coisas e o ambiente externo a mim, o que existe fora e independente do eu; o mundo subjetivo e o mundo objetivo. Mas, a intenção pode ser, e vale a pena tentar, de aproximar ambos ao máximo possível. Tentar, na verdade, fundi-los numa unidade. Embora, saiba que nunca se alcança essa fusão, vale a pena o esforça para aproximá-los tanto quanto puder.

terça-feira, março 08, 2022

O APRENDIZ DE OPRESSOR

 

Todo filho, lá pelos 15 anos, entra na fase de aprendiz de rebelde. Foi nessa época que o pai perguntou ao garoto:

- Filho, o que tem aprendido na escola?

- Há, pai, aprendi que você... bem, não posso falar.

- Como assim filho? Pode falar. Sabe que seu pai tem a mente aberta e não recrimina você atoa.

- É, que, pai, que descobri que você é um opressor.

- Opressor?

- É. Opressor porque você é empresário, tem muitos funcionários e explora eles.

- ´Tá brincando?! Eu opressor? Quem pôs essa besteira na sua cabeça, filho?

- Ninguém pai. Descobri por mim mesmo. Minha professora pediu para fazer uma redação baseada na relação entre ricos e pobres na sociedade capitalista.

- Há! É isso? E o que mais?

- Tinha que explicar porque e como os empresários exploram a classe trabalhadora.

- Entendi. E você se colocou em qual classe?

- Eu? Não exploro ninguém....

- Há, é! E quem sustenta você é o trabalhador ou o empresário?

- Como assim?

- Quem dá sua mesada mensal é o empregado ou é seu pai?

- Eu não escolhi ser filho de empresário rico. Nasci e pronto.....

- Pois bem. Já que eu sou explorador dos pobres não seria justo você viver do dinheiro que eu supostamente arranco do lombo dos meus empregados. Então, vou cancelar sua mesada.

- Poxa, pai! Isso é sacanagem!

- Não. Estou apenas querendo respeitar sua convicção e evitar que seja hipócrita.

- Bem pai, não precisa levar isso a sério. Era apenas uma redação. Se escrevesse que o empresário não explora o empregado, a professora diria que estou errado e me daria zero de nota.

- Então o problema é que você se vê forçado a seguir a onda? Tenho uma solução para isso. Vou tirar você dessa escola e colocar noutra que não ensine esses absurdos a você.

- Mas não é absurdo! Você não vive do trabalho de seus empregados?

- Você também vive, filho.

- Sei pai, mas não é exploração?

- O que você acha? Seria melhor ele não ter emprego e dizer que ninguém o explora mas não ter renda nenhuma ou ter emprego e salário para sustentar sua família?

- Acho melhor ter emprego.

- Filho, as coisas são muito mais complexas do que tenta passar sua professora. Eu abri essa empresa porque vi mercado para o que pretendia produzir. Sabia que poderia contratar pessoas para trabalhar pra mim. Imagine que eu não pudesse ter empregado, eu não produziria nada e o pobre não teria renda a não ser por seu próprio empreendimento.

- É complexo mesmo.

- Eu tinha dinheiro que herdei de seu avô e pude ainda contrair empréstimos no banco. Arrumei sócio e comprei o terreno e construí a fábrica. Você acha que o pobre poderia se envolver num negócio desse?

- Seria difícil, resignou o filho.

- Não há exploração só apenas cooperação e parceria. Criei uma fonte de rede para mim com a abertura dessa empresa e criei uma fonte de renda para meus funcionários também. Ambos temos benefícios do negócio. É isso que chamo de parceria.

- Nossa, pai! Estou vendo que é melhor mudar de escola!

quarta-feira, janeiro 05, 2022

FAZ SENTIDO FUGIR DO MUNDO REAL?

O problema da maioria das religiões é que defende o isolamento da sociedade, o cultivo da vida retirada, longe da labuta normal do indivíduo comum. Esse talvez seja o grande pecado das religiões. Precisamos de uma religião ou filosofia que pregue a vida sábia no mundo normal, na vida cotidiana da luta pelo sustento e conforto.  Nada mais salutar e benéfico para a sociedade que o próspero empresário que atua com sabedoria, contribuindo para que o mundo seja um pouco melhor.  O sábio da vida, com recursos financeiros, tem a imensa possibilidade de agir dentro da sociedade com capacidade de gerar benefícios permanentes a uma parcela significativa das pessoas no seu ambiente de influência. Da mesma forma o ignorante ou psicopata pode, com vastos recursos, distribuir sofrimentos e desordens sociais que perdurarão para o longínquo futuro.