sexta-feira, novembro 27, 2015

CICLOVIAS E OUTRAS CICLOAVENTURAS




O povo paulistano, neste ano de 2015, sempre fala, com ironia, que tem um prefeito que é louco por ciclovias. Mas não vou falar desse sujeito que acha que sabe o que é melhor para os outros. Isso é gente perigosa para a sociedade. Os paulistanos fariam bem em não dormir sossegado, tendo um alcaide desses.
Mas desejo falar da bicicleta em si ou das virtudes de se aventurar por trilhas com esse veículo de duas rodas. Não acho graça nenhuma praticar ciclismo na cidade. Parece não só perigoso como nada recomendável à saúde. Respirar o ar poluído por automóveis é sacrificar os pulmões.
A bicicleta serve para fazer trilha de uma maneira bastante agradável, pois não gera ruído e possibilita ao amante da natureza rápidos deslocamentos que não é possível a pé.
Sempre gostei de trilhar a mata com mochila nas costas, pedalando relaxadamente uma bicicleta de 18 marchas.
Fazia um programa dessa natureza nos arredores da grande São Paulo, em lugares com muita mata, pedras, montes e riachos. Mas há regiões perigosas, principalmente aquelas próximas a vilas formadas por invasões. São áreas habitadas por gente pobre, distantes do centro, que aproveitam terrenos abandonados, proprietários ausentes ou desconhecidos. Pode ser inclusive áreas com restrições legais de construção, mas que, por descuido ou negligência das autoridades, foram invadidas e povoadas de um dia  para o outro. Esses lugares isolados e distantes acabam sendo esconderijo de fugitivos da lei e desocupados de toda espécie. Embora muitos desses moradores sejam gentes honestas e trabalhadoras, a ausência de autoridade facilita a presença de indivíduos que, se cruzarem com você, enxergará apenas uma presa fácil para roubar sua bicicleta e sua mochila, talvez até seu tênis. Aconteceu isso como um amigo e não desejo compartilhar com ele essa experiência.  
A última vez que perambulei pelas trilhas foi numa área distante de estratos urbanos e pude cruzar com um casal de capivara deitado na sobra junto ao córrego. Com a minha aproximação, os dois animais levantaram e saltaram na água, nadando para uma curva uma dezena de metros adiante. Vi muitas aves e pássaros. Parei numa parte alta do terreno, alertado pelo ruído estranho na copa das árvores. Olhei e vi um bando de bugios, saltando de um galho ao outro. Uma fêmea carregava seu filho nas costas. O macho, mais corpulento e com uma juba meio marrom, parou e me encarou. Olhei-o em silencio, sem fazer nenhum movimento. Acredito que percebeu que eu não era uma ameaça, pois virou lentamente e subiu pelo tronco mais grosso da árvore, saltou para outra galhada e se afastou, seguindo as fêmeas.
Mais tarde vi um veadinho saltar de um descampado para o mato e fugir quebrando ramos e contornando as pedras do meio da mata.
Na volta presenciei mais um gracioso animal que é o esquilo. Ele estava no chão, catando coquinhos. Quando me viu correu para um tronco, subiu por ele até uma altura de três metros, parou e me encarou, soltando curtos gritos, uma espécie de latido agudo e rápido.
Devo ter viajado por uns 30 quilômetros meio em ziguezague, incluindo a volta. Não havia poluição, só o cheiro de flores e de ervas desconhecidas. Se tivesse caminhado a pé teria feito um terço desse percurso. Não fiquei cansado, pois pedalei com calma, mais interessado em ver os detalhes da floresta e da vida que habita ali.