sexta-feira, outubro 24, 2014

COMO! A PETROBRÁS É NOSSA? QUERO MINHA PARTE

Abel Aquino

Hoje, dialogando com um eleitor da Dilma ouvi, em alguns minutos, todos aqueles chavões da esquerda brasileira. Disse ele que a Petrobrás é do povo, é patrimônio da nação, que acredita que a Dilma não sabia de nada e que vai recuperar a empresa. Disse que só o PT preocupou com os pobres e que o PSDB é partido da elite. Para espantá-lo um pouco eu afirmei que admirava saber que ele se sentia dono da Petrobrás porque eu era incapaz de ver minha parte naquela empresa. Com que base ele afirmava que ela é do povo? Não soube Responder. Disse a ele que todas as acusações de que o PSDB é privatizante e que queria vender a Petrobrás me decepcionaram. Me decepcionaram porque sabia que não era verdade, pois tinha certeza de que o PSDB é tão ou quase tão estatizante quanto o PT. Por mim, acabaria com todas as estatais do pais, privatizaria tudo. Ele arregalou os olhos.
 Eu perguntei:  se a corrupção dominar a empresa em que você trabalha,o que acontece? Ela quebra, não é? Quebra e fecha. Agora quando um dirigente de uma estatal  desvia dinheiro até deixá-la a míngua, o que acontece? Ela quebra e fecha? Respondeu que não. Pois, então, continuei, toda e qualquer estatal corre, permanentemente, o risco de tornar-se instrumento de uso político. Desvirtuar a função de uma empresa por interesses particulares é fácil quando essa empresa está sob controle de governantes ávidos de poder ou que querem obter altos beneficio com o uso desse poder. O rapaz abaixou a cabeça e balançou os braços, visivelmente incomodado. Então considerei a conversa por encerrada, certo de que não tinha conseguido abalar suas convicções.
Eu sempre fico estarrecido quando encontro alguém que acredita que a Petrobrás é nossa, considerando esse “nossa” como todos os brasileiros. É uma crença tão sem base real quando a crença no Papai Noel, entanto persiste altaneira e sem arranhões ao longo de décadas, como verdade tão sólida quando a ingenuidade média do povo.
Juro que tentei, por meio de repetidos momentos de meditação e atos de renuncia, sentir-me parte da Petrobrás, talvez imaginar qual parte daquelas torres fumacentas, daquele enormes tanques cheirando betume, daquelas imensas plataformas balouçando no mar, mas fracassei.Não descobri nenhuma maneira de ver, apalpar ou reinvindicar a parte da empresa que me pertece como cidadão brasileiro, pagador de pesados e sufocantes impostos.

Há muito tempo desisti de acreditar, se é que alguma vez acreditei, que tenho alguma parcela, por menor que seja, da Petrobras. Para mim sinto-me que ela é tão parte de mim quanto um iceberg que se desprende da calota polar no verão.  Sou tão obtuso que não consigo perceber qual seria a diferença de abastecer meu carro com gasolina feita por uma empresa brasileira ou por qualquer outra. Sei que não há dificuldade nenhuma em perceber que me interessa a qualidade desse combustível, em primeiro lugar e, em segundo, o quanto pago por ele quando vou abastecer o carro.  Qualquer pessoa com um mínimo de cultura econômica sabe que o preço que pago é determinado por duas condições, que os economistas chamam de variáveis, ou seja, quanto se produz e quanto se compra. É a mecânica da oferta e da procura. Se tem mais gasolina pra vender e menos gente pra comprar o preço tende para baixo, se há menos gasolina e mais consumidores, o preço tende para cima. Outra coisa, a oferta depende de quantos a oferecem; se só um produz e vende, ele pode manipular o preço e sacrificar a demanda. Se só alguns produzem e vendem, esses podem estabelecer um conluio, controlar a oferta e, com isso, distorcer os preços a seu favor. Já quando muitos produzem e muitos  vendem, o consumidor passa a ser privilegiado, tem até certo ponto, poder de ditar os preços. Todas essas situações podem acontecer independentemente de serem os produtores nacionais ou estrangeiros. Dizer que é um bem incalculável poder se vangloriar de ter uma gigante petroleira, puramente nacional, e que nos abastece carinhosamente com bom e barato combustível, é contar piada de mal gosto. Por muitas razões isso é um engodo. Nossa gasolina não é a mais barata do mundo e muito menos a melhor. Pelo contrario, os carros importados precisam de custosas adaptações para funcionar com esse nosso combustível de quinta categoria.  24/10/2014