sexta-feira, dezembro 17, 2010

O MELHOR DO DIA

Abel Aquino

Levantei da cama sem pressa. Abri a janela e olhei a semi-escuridão. As galinhas ainda estavam no puleiro e o gado dormia junto à porteira do curral. Olhei para o leste e vi o clarão amarelo do horizonte, o anúncio do amanhecer. Coloquei minhas calças e sai em direção à sala, deixando Chel dormindo. Calcei minhas botas e sai pela cozinha, abrindo a porta do fundo e saindo para fora, no ar fresco da madrugada. Peguei alguns troncos de lenha e voltei para acender o fogão. Procurei uma lamparina, risquei o fósforo e encostei-o no bico entumecido de querozene. A chama iluminou a cozinha. Arrumei as achas na boca do fogão e puxei a tampa da lamparina e derramei um pouco de querozene sobre a lenha.
Sentei-me no banco de madeira, estiquei as pernas, fechei os olhos e deixei meus pensamentos flutuarem no tempo e no espaço de meu universo. A manhã é a melhor parte do dia e o que sinto nessa hora, determina todo o resto.

domingo, novembro 28, 2010

É MELHOR QUE GATO!

Abel Aquino

Firmino parou perto do chiqueiro e notou que as galinhas do terreiro estavam agitadas e barulhentas. Dali viu a serpente esgueirando-se pela porta aberta de seu casebre. Aproximou-se lentamente e pode perceber que se tratava de uma jibóia grande e com pedaços de pelo soltos sobre o dorso. Acompanhou o réptil, enquanto arrastava-se pelo interior passando por entre os sacos de feijão, por baixo da mesa e das cadeiras e rumando para o quarto. Suas voltas eram lentas e a língua bifurcada estendia-se a cada segundo. Parecia procurar algo. Firmino ficou curioso: queria ver o que ela buscava por debaixo da cama e por trás da bruaca de roupas. De repente o réptil retraiu-se, formou algumas rodilhas e esticou o pescoço, parecendo concentrado e atento. Depois de um minuto imóvel, lançou a cabeça para frente e capturou o camundongo que estava escondido no espaço entre a bruaca e a parede de pau à pique. Enquanto a cobra se preparava para engolir o animal, Firmino foi até o fogão, pegou uma caneca de café, sentou na cadeira e ficou espiando a cena. Depois que o réptil engoliu o rato, esticou-se com aquele calombo na barriga, olhou para o lado do homem e começou a se mover lentamente. Passou pela porta que dividia o quarto da sala e arrastou-se na direção da saída.
Firmino estava satisfeito e pensou consigo: essa é melhor que gato!
Mas, se começar a comer os pintos de minhas galinhas, eu mato.

terça-feira, setembro 07, 2010

SESSENTA VELAS PARA JACINTO

Abel Aquino

No dia do em que completou sessenta anos, Jacinto percebeu que sua vida passara. Levantou de manhã, desejando ouvir alguém cantando “parabéns pra você” como nunca desejara. Enquanto tomava o café como fazia há muitos anos, folheava uma velha e rota revista. Deteve-se numa foto de um casal abraçado, sorrindo e viu sua vida percorrer a mente como um filme em alta velocidade. Foi até o banheiro e observou seu rosto refletido no espelho. Sua pele excessivamente branca estava vincada e áspera, com sardas protuberantes e rugas profundas. O cabelo grisalho substituíra as mexas ruivas da juventude.
Além da mãe - que morrera cedo - não conseguia se lembrar de alguma mulher importante em sua vida. As poucas vezes em que fizera sexo, foi com prostitutas ocasionais. Lembrou-se da Joana, a baixinha que mandava recados através das amigas, mas a qual nunca dera resposta. “Parece que eu sempre tive medo das mulheres”, pensou.
Nunca fora um homem de festas, mesmo na juventude; não sabia dançar nem perdia tempo com música; só sabia trabalhar. O primeiro emprego, fora carregar lenha numa carriola de madeira; tinha dez anos de idade. A partir daí, a vida foi só trabalho. A única diversão era ir aos domingos assistir as peladas de futebol que aconteciam no campo dos Gonçalos. Nos fins de tarde, passava algumas horas no botequim do Biro, tomando pinga e fumando. Essa era sua vida.
Depois que a mãe morreu, passou a ouvir dos conhecidos que precisava casar, arrumar uma companheira. Aborrecia-se com aquilo, mas nunca perguntou a si mesmo o porquê. A mãe, a mulher com quem mais conviveu, era quieta, triste e também muito solitária. Seu pai a abandonara com dois filhos pequenos. O irmão, que era mais velho, saiu de casa aos 12 anos e foi viver longe. Visitava a mãe uma vez por ano e nada falava da família que formara. Jacinto sabia que tinha dois sobrinhos e uma sobrinha, mas não os conhecia. O irmão, quando vinha visitar a mãe, apenas o cumprimentava, sem trocar palavras que não fossem monossílabos, tipo “sim”, “não”, “é”.
Agora, com sessenta anos, Jacinto sentia angustia e solidão. Olhou pelo corredor que dava para a cozinha e imaginou que mulher alguma ali passava, vindo do quarto ou indo fazer comida. Tinha apenas a Clotilde que vinha fazer a limpeza, uma vez por semana. Jacinto a pagava com prazer depois de ver a casa organizada e cheirosa, as roupas lavadas, passadas e guardadas no armário.
Lembrou-se de que uma vez ficou a observá-la encerando o assoalho. Trabalhava cantando, alegre e cheia de energia. Jacinto aproximou-se e sentiu o cheiro de suor feminino. A saia estampada terminava acima dos joelhos e podia-se ver um par de pernas vigorosas e bem cuidadas. Sentiu vontade de agarrá-la, apertá-la nos braços e apalpar o corpo macio, apertando as partes mais íntimas. Assustou-se com a idéia, desviou o olhar e caminhou para fora. Clotilde era casada, um pouco feia e jamais demonstrara alguma atenção especial ou consideração por Jacinto. O marido é que dizia:”ocê precisa arrumar uma mulher para cuidar da casa e de ocê” repetia zombeteiro. Oferecia sua cunhada, viúva e cheia de filhos para criar. Jacinto fazia careta e evitava dar desculpas para não estimular mais ainda as insinuações.
Mas sessenta anos passaram-se rapidamente e precisava alterar o rumo da vida, antes que tarde demais. “E já não seria tarde de mais?” Perguntou a si mesmo. Alguma mulher poderia querer, agora, um velho como ele? Mas uma coisa estava decidida; não iria trabalhar no dia do aniversário.
Barbeou-se, tomou banho, escovou cuidadosamente os dentes, vestiu a melhor roupa que tinha e saiu para a rua, disposto a ver pessoas, conversar, tagarelar e principalmente encontrar mulheres. Sim, precisa papear com mulher. Pensou em procurar uma prostituta, mas afastou rapidamente a idéia. “Hoje quero fazer coisa diferente”, falou com seus botões. Escolheu fazer um passeio pelo comércio, pela praça e por onde pudesse cruzar com mulheres. Entrou no mercado e viu a Tereza arrumando as gôndolas.
- Bom dia, Tereza!
- Bom dia, Jacinto. – O que aconteceu com ocê hoje, todo arrumadinho num dia da semana!
- É meu aniversário, respondeu sorrindo.
- É! Ta bonitão! Brincou, abrindo os braços e os descansando nos quadris, com ar sensual e alegre.
Jacinto excitou-se. Pensou em seu íntimo: “o que está acontecendo comigo?” – “Parece que estou com aquele fogo dos vinte anos?!”
Mas sabia que ali não era lugar para ficar proseando com uma mulher em seu horário de serviço. Trocou mais algumas palavras com a Tereza, despediu-se e saiu do mercadinho.
- Não vai comprar nada? Ouviu-a perguntar atrás de si.
- Depois eu volto, respondeu, saindo para a rua.
Na praça, viu uma mulher sentada no banco de pedra, cuidando dos dois filhos que brincavam no canteiro de grama. Lembrou-se de que nunca tivera a experiência de ser pai, de ter filho para cuidar. “Por que será que só agora penso nisso?” “Será que é porque estou chegando ao fim da vida?” Não sabia responder.
Desceu a rua do Alípio e lembrou-se da Marcela, a dona da venda de doces, mulher descasada, muito prosa. Jacinto dirigiu-se para lá. Viu a empregada passando pano no chão com o rodo. De vez em quando ela parava e chutava um cão teimoso que tentava entrar.
- A dona Marcela está? Perguntou timidamente.
- Deu uma saidinha, mas já volta, explicou a moça. Quer alguma coisa?
- Sim, quero dizer, encomendei algo e preciso falar com ela, gaguejou Jacinto.
- Ela volta logo, concluiu a empregada, continuando a esfregar o piso.
Esperou alguns minutos e decidiu continuar sua caminhada.
- Volto mais tarde, explicou para a moça, seguindo em frente.
Perto do meio dia, já havia proseado com uma dezena de pessoas, mas com nenhuma mulher. Decidiu almoçar no pequeno restaurante do Marcola.
- O que deu em ocê? Perguntou curioso.
- To comemorando meu aniversário, hoje; não vou nem trabalhar, respondeu, procurando um lugar para se sentar.
- Faz bem, argumentou o comerciante, esfregando as mãos.
- O que vai comer?
- Pode ser bife acebolado e aquele molho de batata, que adoro.
- Ótimo! Arroz, feijão, bife e molho. – Alguma salada?
- Pode vir.
- Alzira, gritou Marcola, prepara um almoço caprichado para nosso amigo Jacinto; bife acebolado e molho de batata, de mistura. – uma salada também, concluiu.
A mulher surgiu na porta que dava para a cozinha, cumprimentou Jacinto e foi preparar o pedido.
- Essa sua cozinheira é muito boa, comentou Jacinto.
- É boa em tudo, respondeu o homem com um sorriso zombeteiro.
- É, exclamou Jacinto, sem entender.
- Ocê precisa ver na cama como capricha, cochichou Marcola, inclinando o corpo sobre a mesa e olhando dentro dos olhos de Jacinto.
Jacinto estremeceu, embaraçado. O homem endireitou o corpo, mantendo o sorriso irônico.
- Mas ocê é casado, Marcola, sentenciou Jacinto.
- Sou casado e sei dar minhas escapadas, voltou a dobrar o corpo na sua direção. – Acho que me satisfaço só com a velha? Homem nenhum pode ter uma mulher, só... perde a graça, comentou, mais irônico ainda.
- E é? Gaguejou Jacinto.
- Ocê deve gastar uma nota no puteiro todo mês, não? – é solteiro, sem mulher em casa para esquentar a cama... continuava zombeteiro.
Jacinto abaixou os olhos e respondeu com a voz baixa:
- Gasto sim!
- É assim mesmo, meu amigo! A Alzira ganha pra cozinhar e, nas horas vagas, faz hora extra particular, concluiu rindo.
Jacinto nunca pensara dessa maneira. Jamais perdera tempo em imaginar que o mundo era assim tão cheio de sexo e excitamento, como era para o Marcola.
Voltou para casa contente. O mundo ainda o surpreendia. Sentiu que vivera sessenta anos de uma vida monótona sem ver que outro mundo corria a sua volta e não percebia. Aproximava de casa quando viu a Clotilde.
- Bom dia! Cumprimentou, sem reparar que já passara do meio dia.
- É boa tarde, Jacinto. – Como você está bonito hoje! Que acontece? Perguntou, admirando-o de alto a baixo.
- Hoje é meu aniversário e não fui trabalhar, explicou, evitando cruzar os olhares.
- Meus parabéns! Desejou a mulher. – Quer que eu vá dar uma limpadinha na sua casa e ocê passa o resto do dia de aniversário numa casa mais em ordem?
- Eu quero, sim, respondeu satisfeito.
Meia hora depois Clotilde chegou. Havia trocado de roupa, penteado o cabelo e pintado de vermelho os gordos lábios. Jacinto sentiu um frio na barriga. Enquanto a mulher varria a casa, ia de um lado para o outro, mas evitava observá-la para não se excitar. Sentou-se na poltrona da sala e acendeu um cigarro, buscando relaxar. Depois de varrer e passar pano em toda a casa e lavar as vasilhas da cozinha, Clotilde perguntou onde estavam as roupas sujas.
- Vou por de molho, explicou.
Jacinto olhou-a como nunca tinha olhado. Os seios redondos e firmes escapavam do decote do vestido. O sorriso malicioso causou cala-frios.
- O Aldo está trabalhando? Perguntou, preocupado com os pensamentos obscenos que o acometiam.
- Não tá, respondeu. – Foi fazer um carreto para o Seu Juvenal; volta amanhã, concluiu com ar casual.
Jacinto sentiu de novo aquele frio percorrendo a espinha. Levantou da poltrona e foi até o quarto juntar as roupas usadas para entregar a mulher. Catou, sem pressa, as roupas espalhadas pela cama, as enroscadas na cadeira e as jogadas no chão. Sentiu o perfume da mulher. Olhou para trás e ali estava ela a um passo, olhando fixamente. Pensou: “até que não é feia”. Os olhos dela procuravam os seus. Jacinto ficou perturbado com aquele penetrante olhar e baixou a cabeça. Ela estendeu a mão.
- Ocê tá bem? Perguntou num sussurro.
Jacinto levantou os olhos, disposto a reunir coragem e a seguir em frente. Pegou a mão estendida. Estava quente e macia. Deu um passo para frente e encontrou o corpo trêmulo e macio. Viu os lábios abrirem-se, molhados e macios.Fechou os olhos e encostou os seus próprios lábios naquela boca exposta e excitante. Foi um beijo demorado. Quando abriu os olhos, viu que a mulher puxava as alças do vestido e o deixava cair.
Foi o melhor sexo que jamais experimentara.
Terminado, jogou-se na cama, enquanto a mulher recompunha a vestido. Ela saiu, em silêncio. Jacinto fechou novamente os olhos. Sua cama parecia girar, seu peito arfava. Não podia acreditar que jamais conhecera tanta emoção em sessenta anos. A mulher continuava a trabalhar; pôs a roupa suja de molho e bateu o pó dos móveis da sala. Jacinto ouvia os ruídos que ela fazia, imaginando que seria uma ótima coisa ter mulher para si, cuidando da sua vida, conservando a casa limpa e arrumada, além de dar prazer e calor na cama.
Clotilde falou do corredor.
- Acabei. Vou embora, explicou com voz serena e quase indiferente.
- Ta, respondeu jacinto, sem se mexer na cama.
Agora, mais do que nunca, dispôs-se a imaginar uma nova vida. Decidiu-se a não viver mais sozinho. Sim, iria arrumar uma companheira, tinha convicção disso.

sábado, julho 10, 2010

A CURVA DO TEMPO

Abel Aquino

Recolhi os remos do barco.
Fui com a correnteza das coisas,
Com o flutuar da isca sem consciência
E o deslizar da noite enluarada.
Vi as estrelas acima das pontas da serra,
O olhar aberto – a mente vazia,
O corpo apoiado nas bagagens
E a canoa escorregando pelo rio.

Sou o pescador das idéias etéreas,
Ouvindo o rõim, rõim dos batráquios,
O cri, cri dos grilos e o tic,tac do relógio.
Meu barco esbarra na pedra irregular,
O remo apóia no barranco e empurra,
Enquanto o barulho das águas
Denuncia a forma negra do obstáculo
E desperta o espírito distraído e morno.

Desejo abrir a mochila de lona
Encostar o bote na margem arenosa
E ler meu livro em voz alta.
Mas o espírito sem luz e a noite brumosa
lança meu desejo na marola escura
e leva o choro do mandi fisgado.
Só vou assar traíras na primeira manhã
Pouco importando com ouros e lembranças,

Esquecido do lugar nas curvas dos anos!

terça-feira, abril 06, 2010

PAIXÃO E CONFUSÃO

Abel Aquino

Mauricio não tinha convite para ir à festa. Osvaldo era o único que poderia ajudá-lo.
- Você pede dois convites; - pode ser três.
- Não sei se vai dar certo, retrucou Osvaldo.
- Claro que dá!
- Eles não conhecem você; vão saber que não foi convidado.
- Nessas ocasiões, se esquece para quem enviou convites; nem imaginam quem acompanha os convidados. – Sempre haverá gente mal conhecida.
- Bem! vou levar minha namorada.
- Pede três convites, então.
- Mas, afinal por que você faz questão de ir a essa festa?
- Porque a Vânia vai estar lá.
- Há! Tinha me esquecido. Você é amarradão nela.
- É. Preciso me aproximar dela.
- Mas, ela já tem namorado.
- E daí? Ainda não casou.... o namoro pode não dar certo e eu terei minha chance.
- Você vai é causar confusão.
- Não. Vou ser cuidadoso e paciente.
- Tudo bem! Vou tentar conseguir os convites.

Quando Osvaldo confirmou que tinha os convites, Mauricio correu para o banheiro, barbeou-se cuidadosamente, tomou banho e procurou o armário para escolher a melhor roupa que tinha. Vestiu uma calça azul escura, camisa cinza clara, passou gel no cabelo e o penteou com estilo. Calçou um par de sapatos preto, lustroso e bico meio quadrado.
Saiu para encontrar com Osvaldo, dando pulinhos na calçada e balançando os braços com alegria. A noite estava fresca e o ar meio frio esfriava seu seu rosto. Juntou-se ao Osvaldo -que o esperava com a noiva - e seguiram para a festa do João Paulo. Quando chegaram, viram muitos carros, gente bem vestida no alpendre e, do interior da casa, vinha o som alto da música. Entregaram os convites e entraram calmamente. Mauricio olhava a sua volta, tentando ver alguém conhecido ou cruzar com os grandes olhos azuis da Vânia. A sala era enorme e sem moveis; cadeiras e estofados ficavam junto das paredes. No extremo oposto, próximo à porta que dava para a cozinha, ficava o bar improvisado com mesas e caixotes. Os barris de chope estavam sobre um pequeno balcão, atrás do homem que servia aos convidados. Mauricio e Osvaldo rumaram para lá, atravessando a sala. Cada um pegou uma jarra de chope e seguiram para um canto à esquerda. Naquele momento viram Vânia entrando de mãos dadas com o namorado. Mauricio olhou-a da cabeça aos pés. Estava linda; o vestido, bege, com leves pregas saindo da cintura e um belo decote deixando partes dos belos seios à mostra. O cabelo solto, repartido ao meio, com cachos nas extremidades, brilhava sob as luzes da sala. Mauricio suspirou. Osvaldo cutucou-o.
- Tira o olho da menina, cara!
- Está linda, não está!
- Com certeza!
O casal passou quase ao seu lado e foi até junto da mesa de som. Cochicharam com o DJ e voltaram para o meio da sala. João Pedro, o anfitrião, veio, sorridente, ao seu encontro. Levou-os para outra sala à direita.
Quando o DJ colocou música dançante, casais mais afoitos foram para o meio da sala e começaram a dançar. A sala foi se enchendo de gente e muitos acompanhavam a música cantando e balançando os braços.
Mauricio já estava na terceira jarra de chope e não percebeu que o Osvaldo se afastara com a namorada. Observou a pista e olhou quem estavam dançando. Procurou pela Vânia, mas não estava na sala. Quando o DJ deu um intervalo na música, o Osvaldo e a namorada saíram pela porta da direita, procurando o banheiro. Passando por eles, Mauricio viu Vânia, entrando na sala. Ela parou por um momento, olhou para o lado da mesa de som, voltou para a esquerda e foi sentar ao lado de uma senhora que Mauricio reconheceu como sua mãe. O Osvaldo voltou com a namorada e ficou de pé ao lado de Mauricio. A música recomeçou e a sala encheu-se de casais a dançar. Mauricio olhava para a sua amada, ansioso por ter uma oportunidade de ir falar com ela.
- Ela está sozinha, falou para o Osvaldo.
- O namorado está jogando carta, na outra sala, respondeu Osvaldo.
- Está! Deixou ela sozinha. Nem imagina o perigo que corre, disse rindo.
- Tenha juízo, amigo.
- Tenho cuidado; vou me aproximar discretamente.
Mauricio começou a andar em direção da moça. Esta olhava os casais dançando e balançava o corpo ao ritmo da música que ouvia.
Mauricio aproximou-se e convidou-a para dançar.
- Oi! Vânia.
- Oi! Mauricio, respondeu com um leve sorriso.
- Quer dançar comigo?
- Não posso, estou acompanhada, respondeu a moça.
- Pensei que tinha terminado com o namorado, respondeu Mauricio.
- Não! Não terminei.
- É que eu o vi beijando a Julia, lá na outra sala.
- O que!
- Pensei que ele já estava com outra, explicou meio tímido.
- Que historia é essa! Perguntou indignada e com os olhos arregalados.
Levantou-se rapidamente e seguiu na direção da sala de jogos à passos largos.
Quando entrou na sala viu a Julia encostada na parede, um metro distante do seu namorado. Este, inclinado sobre a mesa e examinando as cartas, não viu a namorada chegar.
- O que essa vadia está fazendo aqui, gritou para o noivo.
Cláudio levantou os olhos assustado.
- O que aconteceu!
- Não se faça de desentendido, Cláudio, gritou, olhando para Julia que a encarava com ar de espanto.
- Você ficou maluca, querida!
- Maluca vou ficar agora!
Vânia avançou sobre Julia que saiu para o lado, assustada e sem entender o que estava acontecendo. Cláudio levantou-se e segurou no braço de Vânia.
- Calma, querida. O que está acontecendo com você?
- Você vai me trocar por essa vagabunda horrorosa?
- Que é isso, querida?
- Vagabunda horrorosa é você, sua vaca doida, gritou Julia, ofendida.
- Vaca é você, gritou Vânia, escapando do Cláudio e avançando sobre a mulher.
As duas se atracaram, puxando os cabelos uma da outra. Antonio, o namorado da Julia, que permanecera sentado confuso, levantou-se e partiu para cima das mulheres em luta. Gritou para Cláudio.
- Tira essa maluca de sua namorada, se não, vou dar-lhe uma sova.
- Cuidado com o que fala, provocou Cláudio.
- O que foi, ficou ofendido! Cuida de sua mulher que eu cuido da minha; - isso se você tiver competência, comentou, provocativamente.
Cláudio deu um saldo, esticou o braço e acertou um soco no queixo do Antonio. Este caiu sobre a cadeira quebrando-a. Levantou rapidamente, avançando sobre Cláudio.
Dois outros homens surgiram para apartar a briga e foram soqueteados pelos dois. Minutos depois todos os homens da sala estavam atracados uns com os outros, soqueteando-se e quebrando móveis. As mulheres gritavam para que os homens parassem, mas, ninguém ouvia ninguém. Mauricio olhava aquilo com ar divertido até que uma cadeira veio ao encontro de sua canela. Com a dor intensa, por um momento esqueceu que era o causador daquela tremenda confusão. Osvaldo não ouvira o que ele dissera para a garota, mas, tinha certeza de que era o causador de tudo aquilo.
Quando a policia chegou, uma meia dúzia de homens foram levados para as viaturas e levados para a delegacia. Mauricio viu Vânia caminhando pela sala cabisbaixa. Foi ao seu encontro, pegou sua mão e procurou consolá-la. Sua mão estava quente e suada. Mauricio sentiu seu corpo estremecer. Vânia delicadamente soltou sua mão e foi abraçar sua mãe, sem olha-lo.
Mauricio voltou para casa com a sensação de que sua chance de conquistar a garota havia aumentado. Seu amigo, Osvaldo,
estava silencioso; evitou comentar sobre a briga, sabendo que esse era um assunto que seu amigo deveria resolver.