WALDEN de Henry David Thoreau
este está desgastado pelo uso - este outro enfeita a estanteEste primeiro livro, em formato de bolso, comprei em
1976 quando tinha 20 anos e o li como se estivesse lendo a bíblia, com a
diferença de que lia a bíblia meio que por obrigação dos pais e depois, só com
o tempo, por curiosidade. Walden, li cada página com profunda emoção. Sentia
queThoreau era meu irmão espiritual, uma alma gêmea, pois em cada frase eu via
estampada o mundo que percebia, mas não achava palavras para expressar. Thoreau
meu deu essas palavras, auxiliou-me a consolidar os pensamentos e a construir
minha própria filosofia de vida.
É claro que passada aquele euforia, me vi caminhando
por outras paragens, outros personagens surgiram em minhas leituras. Hoje eu
vejo Thoreau como um indivíduo reativo, que negava a sociedade a sua volta, mas
sem radicalismo como contraponto. Talvez esse seja o encanto que permanece; criticava
seus contemporâneos, mas com certa dose de afeição, sem ódios ou revolta. Thoreau tinha bom humor e o bom humor é a
mais poderosa vacina contra fanatismos e intolerância. Ele tinha um pé no sonho
e outro na realidade.
Há uma cena que diz muito sobre sua ironia quase
socrática. Quando os parentes e amigos
perceberam que Thoreau estava a beira da morte, atacado pela tuberculose que destruía seus pulmões,
chamaram o pastor para rezar por sua
alma. Enquanto gemia e tossia em seu
leito, o pastor, que sabia de suas duras críticas a religião e ao cristianismo
em particular, disse: filho, está na hora de você fazer as pazes com Deus. Ao
que Thoreau retrucou num gemido: que eu saiba, nunca briguei com ele. Assim era
esse fantástico pensador. Até na hora da morte conseguia manter o bom humor e
conseguia proferir sua ferina e fria ironia.