terça-feira, dezembro 06, 2016

NOSSA VIDA NÃO TEM CAMINHO

Caminhos e estradas são muito simbólicos e servem para criar metáforas de todo tipo. Dizem que viver é seguir um caminho. Quando a pessoa comete erros, consideram que perdeu o caminho ou o rumo. Não consigo imaginar como é esse caminho nem quem o abriu para mim. Alguns dizem que  viver é seguir por essa imaginaria estrada até encontrar a morte. Outras pessoas dizem que, se seguirmos certas regras obrigatórias, ao final dessa viagem alcançaremos o paraíso. Claro que uma boa parte acaba indo é para o inferno. 
Acho bastante interessante essas metáforas, pois simplificam muito a nossa necessidade de encontra uma  lógica ou uma razão do viver.
Mas, será que não estamos sendo enganados com isso? A metáfora da vida como um caminho a percorrer dá a ilusão de que existe um sentido prévio da  vida, uma espécie de missão impostas a todos as pessoas. Dizem até de que há, numa determinada etapa desse caminhar, uma encruzilhada. Para a esquerda vamos direto a um mundo sustentado pelo diabo. Para a direita, podemos alcançar o céu, povoado de anjos imaculados e com um chefe todo poderoso chamado Deus. 
No cotidiano de nossas vidas essa metáfora, embora não seja nada prática, nos segue como vulto ideal, uma espécie de bússola que nos orienta ao longo da acidentada jornada
 Por atrevimento ou, talvez por imprudência, resolvi imaginar como seria minha vida sem essa metáfora. Considerei que viver pode ser um caminhar, mas sem nenhuma vereda, nem uma trilha sequer. Teria que viver abrindo minha própria trilha em meio às florestas das possibilidades, de desafios, de obstáculos e das necessidades de escolhas. Preciso, toda, desbravar uma parte desconhecida, uma subida penosa e cheia de pedras ou uma descida inclinada demais, escorregadia e ponteada de valas e cercada de despenhadeiros. Posso encontrar, à frente, pântanos perigosos ou desertos inclementes. De qualquer forma minha caminhada não pode ser detida a não ser pela morte. E, como desejo continuar bem vivo, não desisto e prossigo. Imagino que não há bússola nem outros meios confiáveis de me orientar. Sigo em frente meio perdido, desorientado ou caminhando em círculos. Depois consigo encontrar meu rumo e recobrar o animo de prosseguir. Atrás de mim, fica o caminho, as marcas das solas do sapato e os galhos e cipoais rompidos à minha passagem. À frente, não vejo sinais de  de outros, rastros de algum viajante mais prudente, só arbustos espinhosos, liames enovelados entre os troncos das árvores, ou charcos traiçoeiros. Quando passo pelo deserto, só vejo areia, pedras, e o brilho do sol abrasador. Passo fome, passo cedo, sinto fraquezas, as vezes desânimos ou desespero, mas tenho que prosseguir. Depois que passo, fica o caminho, as marcas de minhas obras, das escolhas e dos atos. Um caminho que depois o tempo vai se encarregar de devolver à natureza e apagar as pegadas de minha passagem.