quarta-feira, abril 30, 2008

SERRA DA CANASTRA


Aqui nasce o rio São Francisco


Quando a gente viaja pela primeira vez para a Serra da Canastra, há sempre a ansiedade da chegada, do momento em que ela surgirá no horizonte da maneira o mais portentosa possível. No trecho sem asfalto de Piuhmi até São Roque a gente já começa a entrar no clima, ao presenciar a paisagem mais agreste e rude. A poeira da estrada dá a sensação de que a civilização ficou para trás. E sobe morro, desce morro, curva para a direita, curva para a esquerda e a gente de olho no horizonte a procura de vestigio do paredão que se vê nas fotos promocionais. Cruzamos uma pontezinha mal conservada, sobre rio de pouca água e vemos a placa indicando que alí passa o lendário Rio São Francisco. Há um pouco de desapontamento. Do outro lado, a estrada poeirenta segue serpenteando até que avistamos a encruzilhada. À direita segue-se para São Roque, à esquerda segue-se para a cachoeira Casca D'anta, a mais volumosa queda d'água do parque. Quarquer lado que escolher, a gente estará indo em direção da Serra mas terá dificuldade de vê-la por inteiro.

É preciso ir rodeando-a por estradas estreitas e sinuosas, às vezes bem próximo, às vezes mais distante. Há momentos em que é imperativo parar, descer do carro, subir ao barranco e vislumbrar os paredões recortados por quedas d`águas. No lado sul, por onde desce o Rio São Francisco – ainda nos seus primeiros quilômetros de existência – é que se pode presenciar toda a magestade da montanha, estendendo-se como imensa muralha de granito, coberta por vegetação rasteira, arbustos retorcidos e cachoeiras. Viaja mais alguns quilômetros por estrada paralela ao paredão e, depois de passar por casas de fazendas feitas de adobe, cobertas com telha colonial, portas e janelas de madeira lavrada, chega-se a entrada oficial do parque.


A PRIMEIRA VIAGEM

Levantamos cedo, antes do raiar do sol como dizem os camponeses, e seguimos pela estreita estrada que nasce ao lado do cemiterio e segue rumo a portaria principal do parque, no alto da serra. O muro do cemitério é feito de pedras caprichosamente encaixadas umas nas outras de forma que não há espaço entre elas. Musgos e algas verdes crescem por entre os encaixes e dão uma aparência centenária ao muro. Enquanto subiamos, fomos tragados pela neblina e só podiamos ver por meros 4 metros a nossa frente. o jeep ia lentamente subindo e fazendo as curvas ao redor de morros cada vez mais altos. Quando alcançamos a portaria mal podiamos ver a cancela e a construção de pedra que abriga os guardas e o pequeno escritório.
Portaria principal do parque.
Passada a portaria seguimos subindo por mais algumas centenas de metros e então começamos a sair da neblina e conseguimos ver a chamada casa de pedra. Passamos por ela e alcançamos a campina, onde o capim é baixo e exisntem poucas árvores, a maioria pequenas e retorcidas. A campinas fica num planalto, com suaves ondulações do terreno de forma que destacam as pontas das pedras das partes mais altas e as grotas nas partes baixas. Mais a frente avistamos a baixada onde nasce o São Francisco.
Paramos o jipe junto à pequena ponte de madeira, descemos e seguimos a trilha em direção do riacho. Parei ao lado da água e num passo atravessei o São Francisco que ali tem 60 cm de largura.

Caminhamos em direção do Monumento que colocaram em homenagem ao Santo que emprestou o nome ao rio. A Estatua está protegida por cercado de pedras, recolhidas na redondeza.

Alguns quilômetros depois da nascente já não consegui atravessar o rio nem com dez passos. Ali encontramos a primeira cachoeira.

Dentro do parque, Casca D’anta é a maior cachoeira do Rio São Francisco.. Alí as águas se lançam do alto da montanha e arrebentam-se lá embaixo com enorme barrulho. Depois o rio prossegue mais sossegado, contornando a serra, saltando pedras, margeado por matas, sinuosamente rolando, para seguir seu longo caminho a procura do mar.
Mas do alto da montanha, aconpanhando a água, dá para ver só um pequeno pedaço da cachoeira. E olhando no fundo do vale o rio reaparece. Dá para ver a outra portaria do parque, a uns quinhentos metros do pé da serra.

Planalto dentro do parque.

Cachoeira do Serradão nas proximidades do parque. Essa cachoeira faz parte do circuito turistico da região.



Campina das terras altas.


Carro de boi, comum na região. Pena que a maioria desses carros foram abandonados pelos cantos das fazendas. Foram substituidos por camionetes e jipes.

Frondoso piquizeiro que cresceu todo inclinado na encosta da montanha.

Fomos visitar um morador da região. A casa tinha o curral na frente e pomar no fundo. O sítio não deveria ser grande e, da janela da sala, pude ver os contra fortes da imensa montanha. Aquela familia não tinha luxo mas vivia num razoavel conforto. A comida é sempre boa nesses lugares. O próprietário fabricava queijo e para isso mantinha uma casinha ao lado, toda bem fechada, com prateleiras junto às paredes repletas de queijos para curtir. Proseamos com aquela familia até alta hora da noite e no final já éramos íntimos de todo o mundo. Comemos uma espécie de bolinho em formato de charuto e envolto em casca de bananeira. Muito delicioso. Brincamos com o formato do bolinho que lembrava o orgão sexual masculino.

Sede de fazenda cercada por muro de pedra como muitas das que existem no entorno do parque.
A sensação que a gente tem, quando no alto da serra, no planalto levemente ondulado, é de estar mais próximo do céu. As núvens passam baixas e o vento sopra forte e dobra o capim para um lado e para o outro. Por entre o capim, aparecem pedras enormes, manchadas de musgos e enegrecidas pelas frequentes queimadas que acontecem na estação da seca. Alí o céu é baixo mas o horizonte parece quase infinito.
Num primeiro momento a gente não percebe a grandeza do parque.
É curioso, mas é depois de caminhar bastante, ir a muitos lugares diferentes, visitar cachoeiras, subir penhascos, descer caminhos tortuosos e percorreu as curvas do rio, ainda riacho, é que a gente se dá conta da imensidão desse lugar.