quarta-feira, novembro 16, 2022

CRISTIANISMO PRIMITIVO - MANTER A UNIDADE OU DIVIDIR-SE?

 Nietzsche percebeu bem que o cristianismo nasceu entre o populacho. Esse movimento fez o povo comum, sem poder e vítima de todo tipo de arbítrio, sentir-se além desse mundo, pertencente a outro reino, governado por um rei mais poderoso do que todos os reis da terra. Ao sentir-se como membro de um mundo do além, manifestava profundo desprezo pelo mundo real da política, das guerras, das contendas e brutalidades. Isso causava furor nos governantes da época; daí a perseguição implacável que aplicavam. Mas o movimento prosperou. As perseguições e execuções eram encaradas como confirmação de que pertenciam a outro mundo, de que outro reino, agora de paz e justiça, o aguardava de braços abertos.

Só que a prosperidade do cristianismo gerava, como sob-produto, seu enfraquecimento. Logo formou uma elite acima da massa de crentes fieis e dedicados. Essa elite tomou para si a obrigação de zelar pelos princípios de seu evangelho e todo desvio de interpretação e prática religiosa era encarado como ofensa à suas crenças ou contestação aos dirigentes. Começou, então, a perseguição interna ao movimento.

Na busca de poder para impor unidade ao incipiente cristianismo, sua elite começou a sentir que precisava ter poder, e procurar o imperador romano foi uma conseqüência dessa necessidade.

Portanto, a passagem de igreja perseguida para igreja perseguidora de hereges foi motivada por uma necessidade que os dirigentes sentiam de impor uma unidade de crença ao movimento.

Se compararmos o cristianismo primitivo, e essa mutação criada pelo conluio com o poder terreno, representado pelo decreto do imperador Constantino, e incluir o movimento da reforma protestante, vemos que este último não tinha um império monopolista a que se agarrar e para manter a unidade de sua dissidência. Daí que os protestantes de dividiram em muitas seitas e sub-seitas.

Não tivesse o cristianismo inicial optado pela estatização de seu movimento teria dividido em inúmeras profissões de fé e, provavelmente não teríamos passado por um alongo período do absoluto monopólio e tirania do catolicismo, período esse conhecido por “idade média”.