terça-feira, junho 30, 2015

ESQUILOS E FRUTOS

O alto do muro, coberto de mofo cinza, era uma espécie de estrada para os esquilos. Os dois desciam pelo tronco da árvore de cabeça para baixo e saltavam para o muro. Dali, corriam até a outra árvore, alcançavam o galho mais baixo e desciam ao pé da palmeira. O chão estava forrado de coquinhos amarelos. O primeiro esquilo pegou um coquinho, correu até um monte de pedra e ali começou a descascar o fruto. O outro subiu pelo tronco da palmeira até o cacho, olhou para baixo e, em vez de derrubar ou tentar colher os coquinho, voltou correndo para baixo, pulou no chão, catou um fruto e subiu novamente no trono. Um metro acima alcançou uma espécie de ninho de orquídeas e bromélias que cresciam agarradas à casca da palmeira, escorou as costas no trono e passou a roer o fruto, calmamente. Não havia sol e o céu, coberto pelas nuvens, parecia prestes a despejar água sobre a mata, ainda úmida da última chuva. O lombo do esquilo que roia o coquinho sobre as pedras estava molhado e uma pequena folha parecia colada abaixo de suas orelhas. Um pássaro pousou no galho da árvore próxima. O esquilo olhou para ele, piscou as pestanas e voltou a roer o fruto. O pássaro desceu ao chão, mas não estava interessado nos coquinhos. Bicou a terra em alguns lugares, achou uma lagarta nas folhas do ramo, pisou sobre os coquinhos e saiu saltitando em busca de uma borboleta que rodeava uma flor branca do jardim.
Eu, quieto, os observa, controlando até a respiração. Nada no mundo me faria interromper aquele momento em que, concentrados em roer seus coquinhos, sentiam-se sem nenhuma ameaça visível.  
Quantas dificuldades não enfrentariam em sua constante corrida à procura de comida!                        
Na floresta, não havia muitas outras palmeiras com coquinhos como aquela. Nem todas as árvores dão frutos comestíveis e as que frutificam não produzem em qualquer época. Deve haver períodos em que fica extremamente difícil encontrar alimentos e deve ser trabalhoso para eles evitar a fome.
Nós humanos damos muito valor a uma casa, aquele refúgio, da janela do qual observamos o mundo. Mas, onde seria a morada desses animaizinhos? Teriam uma toca no troco de um velho ingazeiro ou quem sabe uma caverna nas pedras da encosta da montanha? Teriam filhotes, que naquele momento estivessem dormindo em suas camas de musgos no fundo daquela abertura na rocha? E quantas horas do dia passariam correndo pelos troncos, galhos e penedos a procura de comida?
Imaginei que fossem um casal embora nem conseguisse ver diferença de tamanho ou de cor dos pêlos entre um e outro. Era possível que fossem eles um casal.


Seria um casal permanente ou na próxima estação sairiam cada um para seu lado, a procura de novas parcerias?

Depois de roer uma dúzia de coquinhos, o esquilo que estava sobre as pedras correu pelo chão, saltou no galho mais baixo da árvore e partiu, pulando de um tronco ao outro. Seu parceiro olhou por um momento em minha direção, lançou o coquinho para longe e correu atrás do outro esquilo. Rapidamente desapareceram na folhagem.