O
alto do muro, coberto de mofo cinza, era uma espécie de estrada para os esquilos.
Os dois desciam pelo tronco da árvore de cabeça para baixo e saltavam para o
muro. Dali, corriam até a outra árvore, alcançavam o galho mais baixo e desciam
ao pé da palmeira. O chão estava forrado de coquinhos amarelos. O primeiro
esquilo pegou um coquinho, correu até um monte de pedra e ali começou a
descascar o fruto. O outro subiu pelo tronco da palmeira até o cacho, olhou
para baixo e, em vez de derrubar ou tentar colher os coquinho, voltou correndo
para baixo, pulou no chão, catou um fruto e subiu novamente no trono. Um metro
acima alcançou uma espécie de ninho de orquídeas e bromélias que cresciam
agarradas à casca da palmeira, escorou as costas no trono e passou a roer o
fruto, calmamente. Não havia sol e o céu, coberto pelas nuvens, parecia prestes
a despejar água sobre a mata, ainda úmida da última chuva. O lombo do esquilo
que roia o coquinho sobre as pedras estava molhado e uma pequena folha parecia
colada abaixo de suas orelhas. Um pássaro pousou no galho da árvore próxima. O
esquilo olhou para ele, piscou as pestanas e voltou a roer o fruto. O pássaro
desceu ao chão, mas não estava interessado nos coquinhos. Bicou a terra em
alguns lugares, achou uma lagarta nas folhas do ramo, pisou sobre os coquinhos
e saiu saltitando em busca de uma borboleta que rodeava uma flor branca do
jardim.
Eu, quieto, os observa, controlando até a
respiração. Nada no mundo me faria interromper aquele momento em que,
concentrados em roer seus coquinhos, sentiam-se sem nenhuma ameaça visível.
Quantas
dificuldades não enfrentariam em sua constante corrida à procura de comida!
Na floresta, não havia muitas outras palmeiras com
coquinhos como aquela. Nem todas as árvores dão frutos comestíveis e as que
frutificam não produzem em qualquer época. Deve haver períodos em que fica
extremamente difícil encontrar alimentos e deve ser trabalhoso para eles evitar
a fome.
Nós
humanos damos muito valor a uma casa, aquele refúgio, da janela do qual
observamos o mundo. Mas, onde seria a morada desses animaizinhos? Teriam uma
toca no troco de um velho ingazeiro ou quem sabe uma caverna nas pedras da
encosta da montanha? Teriam filhotes, que naquele momento estivessem dormindo
em suas camas de musgos no fundo daquela abertura na rocha? E quantas horas do
dia passariam correndo pelos troncos, galhos e penedos a procura de comida?
Imaginei que fossem um
casal embora nem conseguisse ver diferença de tamanho ou de cor dos pêlos entre
um e outro. Era possível que fossem eles um casal.
Seria um casal
permanente ou na próxima estação sairiam cada um para seu lado, a procura de
novas parcerias?
Depois de roer uma
dúzia de coquinhos, o esquilo que estava sobre as pedras correu pelo chão,
saltou no galho mais baixo da árvore e partiu, pulando de um tronco ao outro. Seu
parceiro olhou por um momento em minha direção, lançou o coquinho para longe e
correu atrás do outro esquilo. Rapidamente desapareceram na folhagem.