sábado, julho 10, 2010

A CURVA DO TEMPO

Abel Aquino

Recolhi os remos do barco.
Fui com a correnteza das coisas,
Com o flutuar da isca sem consciência
E o deslizar da noite enluarada.
Vi as estrelas acima das pontas da serra,
O olhar aberto – a mente vazia,
O corpo apoiado nas bagagens
E a canoa escorregando pelo rio.

Sou o pescador das idéias etéreas,
Ouvindo o rõim, rõim dos batráquios,
O cri, cri dos grilos e o tic,tac do relógio.
Meu barco esbarra na pedra irregular,
O remo apóia no barranco e empurra,
Enquanto o barulho das águas
Denuncia a forma negra do obstáculo
E desperta o espírito distraído e morno.

Desejo abrir a mochila de lona
Encostar o bote na margem arenosa
E ler meu livro em voz alta.
Mas o espírito sem luz e a noite brumosa
lança meu desejo na marola escura
e leva o choro do mandi fisgado.
Só vou assar traíras na primeira manhã
Pouco importando com ouros e lembranças,

Esquecido do lugar nas curvas dos anos!