sábado, maio 07, 2022

AS LIÇÕES DE SABEDORIA DO COTIDIANO

 

Uma coisa que tentei ajustar, em meu pensamento, foi a de que, diferentemente dos pensadores antigos e principalmente dos teólogos do cristianismo, foi a concepção de que qualquer fenômeno a minha volta, qualquer que  seja, ou mesmo pensamentos vindo  à mente tem significado e sentido, portanto importa valorizá-lo, trazê-lo ao palco das meditações. A vida cotidiana é o mais fértil terreno para praticar o autoconhecimento e apresenta, constantemente, e a toda hora, lições de vida e de verdades que não faz sentido algum ignorar.

Os religiosos, principalmente da versão cristã, tem uma tendência para desprezar os acontecimentos e fatos do cotidiano, comuns da vida humana e como vulgares, sem valor, até mesmo vis e rasteiros. O que tem valor é pensar na espiritualidade, é meditar sobre o sagrado, sobre uma vida superior,  ideal ou coisa desse tipo.

Mas escapando desse dualismo, prefiro cultivar uma vida em que o cotidiano e as reflexões mais elevadas sejam partes de meu trabalho de busca do conhecimento da “verdade”. Observar a vida do individuo comum e estudar a vida dos grandes sábios são partes indissociáveis da formação de uma mente que deseja  estar sempre o mais perto possível da realidade, do mundo natural, quero dizer que sem me aprisionar às interpretações difundidas por outros seres humanos. Observar a vida como inédita, antes de qualquer explicação corrente ou julgamento ideológico, é impossível, pois minha mente já está formada ou faz parte dessa cultura na qual nasci e cresci. Negar as fundações culturais onde apoiei meu edifício de conhecimentos é como tentar negar a língua materna e criar outra própria. Portanto não desejo negar meu passado e a forma de pensar que adquiri; o objetivo é o de superar, é de ir além com liberdade, com ousadia e perseverança. A partir da interpretação do mundo que herdei, tentarei edificar uma estrutura de conhecimento que me leva a verdade, à realidade das leis da natureza, sem me limitar ou usar pré-conceitos.

Não pretendo construir uma nova interpretação da realidade, mas, sim, conhecê-la antes e depois de qualquer interpretação. É claro que isso também seria uma interpretação, pois existe esse dualismo entre o eu que percebe e significa as coisas e o ambiente externo a mim, o que existe fora e independente do eu; o mundo subjetivo e o mundo objetivo. Mas, a intenção pode ser, e vale a pena tentar, de aproximar ambos ao máximo possível. Tentar, na verdade, fundi-los numa unidade. Embora, saiba que nunca se alcança essa fusão, vale a pena o esforça para aproximá-los tanto quanto puder.