Uma coisa que tentei ajustar, em meu pensamento, foi
a de que, diferentemente dos pensadores antigos e principalmente dos teólogos
do cristianismo, foi a concepção de que qualquer fenômeno a minha volta, qualquer
que seja, ou mesmo pensamentos vindo à mente tem significado e sentido, portanto importa
valorizá-lo, trazê-lo ao palco das meditações. A vida cotidiana é o mais fértil
terreno para praticar o autoconhecimento e apresenta, constantemente, e a toda
hora, lições de vida e de verdades que não faz sentido algum ignorar.
Os religiosos, principalmente da versão cristã, tem
uma tendência para desprezar os acontecimentos e fatos do cotidiano, comuns da
vida humana e como vulgares, sem valor, até mesmo vis e rasteiros. O que tem
valor é pensar na espiritualidade, é meditar sobre o sagrado, sobre uma vida
superior, ideal ou coisa desse tipo.
Mas escapando desse dualismo, prefiro cultivar uma
vida em que o cotidiano e as reflexões mais elevadas sejam partes de meu
trabalho de busca do conhecimento da “verdade”. Observar a vida do individuo
comum e estudar a vida dos grandes sábios são partes indissociáveis da formação
de uma mente que deseja estar sempre o
mais perto possível da realidade, do mundo natural, quero dizer que sem me
aprisionar às interpretações difundidas por outros seres humanos. Observar a
vida como inédita, antes de qualquer explicação corrente ou julgamento
ideológico, é impossível, pois minha mente já está formada ou faz parte dessa
cultura na qual nasci e cresci. Negar as fundações culturais onde apoiei meu
edifício de conhecimentos é como tentar negar a língua materna e criar outra
própria. Portanto não desejo negar meu passado e a forma de pensar que adquiri;
o objetivo é o de superar, é de ir além com liberdade, com ousadia e
perseverança. A partir da interpretação do mundo que herdei, tentarei edificar
uma estrutura de conhecimento que me leva a verdade, à realidade das leis da
natureza, sem me limitar ou usar pré-conceitos.
Não pretendo construir uma nova interpretação da
realidade, mas, sim, conhecê-la antes e depois de qualquer interpretação. É
claro que isso também seria uma interpretação, pois existe esse dualismo entre
o eu que percebe e significa as coisas e o ambiente externo a mim, o que existe
fora e independente do eu; o mundo subjetivo e o mundo objetivo. Mas, a
intenção pode ser, e vale a pena tentar, de aproximar ambos ao máximo possível.
Tentar, na verdade, fundi-los numa unidade. Embora, saiba que nunca se alcança
essa fusão, vale a pena o esforça para aproximá-los tanto quanto puder.
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