terça-feira, abril 06, 2010

PAIXÃO E CONFUSÃO

Abel Aquino

Mauricio não tinha convite para ir à festa. Osvaldo era o único que poderia ajudá-lo.
- Você pede dois convites; - pode ser três.
- Não sei se vai dar certo, retrucou Osvaldo.
- Claro que dá!
- Eles não conhecem você; vão saber que não foi convidado.
- Nessas ocasiões, se esquece para quem enviou convites; nem imaginam quem acompanha os convidados. – Sempre haverá gente mal conhecida.
- Bem! vou levar minha namorada.
- Pede três convites, então.
- Mas, afinal por que você faz questão de ir a essa festa?
- Porque a Vânia vai estar lá.
- Há! Tinha me esquecido. Você é amarradão nela.
- É. Preciso me aproximar dela.
- Mas, ela já tem namorado.
- E daí? Ainda não casou.... o namoro pode não dar certo e eu terei minha chance.
- Você vai é causar confusão.
- Não. Vou ser cuidadoso e paciente.
- Tudo bem! Vou tentar conseguir os convites.

Quando Osvaldo confirmou que tinha os convites, Mauricio correu para o banheiro, barbeou-se cuidadosamente, tomou banho e procurou o armário para escolher a melhor roupa que tinha. Vestiu uma calça azul escura, camisa cinza clara, passou gel no cabelo e o penteou com estilo. Calçou um par de sapatos preto, lustroso e bico meio quadrado.
Saiu para encontrar com Osvaldo, dando pulinhos na calçada e balançando os braços com alegria. A noite estava fresca e o ar meio frio esfriava seu seu rosto. Juntou-se ao Osvaldo -que o esperava com a noiva - e seguiram para a festa do João Paulo. Quando chegaram, viram muitos carros, gente bem vestida no alpendre e, do interior da casa, vinha o som alto da música. Entregaram os convites e entraram calmamente. Mauricio olhava a sua volta, tentando ver alguém conhecido ou cruzar com os grandes olhos azuis da Vânia. A sala era enorme e sem moveis; cadeiras e estofados ficavam junto das paredes. No extremo oposto, próximo à porta que dava para a cozinha, ficava o bar improvisado com mesas e caixotes. Os barris de chope estavam sobre um pequeno balcão, atrás do homem que servia aos convidados. Mauricio e Osvaldo rumaram para lá, atravessando a sala. Cada um pegou uma jarra de chope e seguiram para um canto à esquerda. Naquele momento viram Vânia entrando de mãos dadas com o namorado. Mauricio olhou-a da cabeça aos pés. Estava linda; o vestido, bege, com leves pregas saindo da cintura e um belo decote deixando partes dos belos seios à mostra. O cabelo solto, repartido ao meio, com cachos nas extremidades, brilhava sob as luzes da sala. Mauricio suspirou. Osvaldo cutucou-o.
- Tira o olho da menina, cara!
- Está linda, não está!
- Com certeza!
O casal passou quase ao seu lado e foi até junto da mesa de som. Cochicharam com o DJ e voltaram para o meio da sala. João Pedro, o anfitrião, veio, sorridente, ao seu encontro. Levou-os para outra sala à direita.
Quando o DJ colocou música dançante, casais mais afoitos foram para o meio da sala e começaram a dançar. A sala foi se enchendo de gente e muitos acompanhavam a música cantando e balançando os braços.
Mauricio já estava na terceira jarra de chope e não percebeu que o Osvaldo se afastara com a namorada. Observou a pista e olhou quem estavam dançando. Procurou pela Vânia, mas não estava na sala. Quando o DJ deu um intervalo na música, o Osvaldo e a namorada saíram pela porta da direita, procurando o banheiro. Passando por eles, Mauricio viu Vânia, entrando na sala. Ela parou por um momento, olhou para o lado da mesa de som, voltou para a esquerda e foi sentar ao lado de uma senhora que Mauricio reconheceu como sua mãe. O Osvaldo voltou com a namorada e ficou de pé ao lado de Mauricio. A música recomeçou e a sala encheu-se de casais a dançar. Mauricio olhava para a sua amada, ansioso por ter uma oportunidade de ir falar com ela.
- Ela está sozinha, falou para o Osvaldo.
- O namorado está jogando carta, na outra sala, respondeu Osvaldo.
- Está! Deixou ela sozinha. Nem imagina o perigo que corre, disse rindo.
- Tenha juízo, amigo.
- Tenho cuidado; vou me aproximar discretamente.
Mauricio começou a andar em direção da moça. Esta olhava os casais dançando e balançava o corpo ao ritmo da música que ouvia.
Mauricio aproximou-se e convidou-a para dançar.
- Oi! Vânia.
- Oi! Mauricio, respondeu com um leve sorriso.
- Quer dançar comigo?
- Não posso, estou acompanhada, respondeu a moça.
- Pensei que tinha terminado com o namorado, respondeu Mauricio.
- Não! Não terminei.
- É que eu o vi beijando a Julia, lá na outra sala.
- O que!
- Pensei que ele já estava com outra, explicou meio tímido.
- Que historia é essa! Perguntou indignada e com os olhos arregalados.
Levantou-se rapidamente e seguiu na direção da sala de jogos à passos largos.
Quando entrou na sala viu a Julia encostada na parede, um metro distante do seu namorado. Este, inclinado sobre a mesa e examinando as cartas, não viu a namorada chegar.
- O que essa vadia está fazendo aqui, gritou para o noivo.
Cláudio levantou os olhos assustado.
- O que aconteceu!
- Não se faça de desentendido, Cláudio, gritou, olhando para Julia que a encarava com ar de espanto.
- Você ficou maluca, querida!
- Maluca vou ficar agora!
Vânia avançou sobre Julia que saiu para o lado, assustada e sem entender o que estava acontecendo. Cláudio levantou-se e segurou no braço de Vânia.
- Calma, querida. O que está acontecendo com você?
- Você vai me trocar por essa vagabunda horrorosa?
- Que é isso, querida?
- Vagabunda horrorosa é você, sua vaca doida, gritou Julia, ofendida.
- Vaca é você, gritou Vânia, escapando do Cláudio e avançando sobre a mulher.
As duas se atracaram, puxando os cabelos uma da outra. Antonio, o namorado da Julia, que permanecera sentado confuso, levantou-se e partiu para cima das mulheres em luta. Gritou para Cláudio.
- Tira essa maluca de sua namorada, se não, vou dar-lhe uma sova.
- Cuidado com o que fala, provocou Cláudio.
- O que foi, ficou ofendido! Cuida de sua mulher que eu cuido da minha; - isso se você tiver competência, comentou, provocativamente.
Cláudio deu um saldo, esticou o braço e acertou um soco no queixo do Antonio. Este caiu sobre a cadeira quebrando-a. Levantou rapidamente, avançando sobre Cláudio.
Dois outros homens surgiram para apartar a briga e foram soqueteados pelos dois. Minutos depois todos os homens da sala estavam atracados uns com os outros, soqueteando-se e quebrando móveis. As mulheres gritavam para que os homens parassem, mas, ninguém ouvia ninguém. Mauricio olhava aquilo com ar divertido até que uma cadeira veio ao encontro de sua canela. Com a dor intensa, por um momento esqueceu que era o causador daquela tremenda confusão. Osvaldo não ouvira o que ele dissera para a garota, mas, tinha certeza de que era o causador de tudo aquilo.
Quando a policia chegou, uma meia dúzia de homens foram levados para as viaturas e levados para a delegacia. Mauricio viu Vânia caminhando pela sala cabisbaixa. Foi ao seu encontro, pegou sua mão e procurou consolá-la. Sua mão estava quente e suada. Mauricio sentiu seu corpo estremecer. Vânia delicadamente soltou sua mão e foi abraçar sua mãe, sem olha-lo.
Mauricio voltou para casa com a sensação de que sua chance de conquistar a garota havia aumentado. Seu amigo, Osvaldo,
estava silencioso; evitou comentar sobre a briga, sabendo que esse era um assunto que seu amigo deveria resolver.