sexta-feira, janeiro 22, 2016

PEPE O GAMBAZINHO CAMARADA

Os animais que não são domesticados são chamados de selvagens e normalmente as pessoas não tem nenhuma afeição por eles. Muitos sempre foram e ainda são caçados como alimento humano. Para piorar, com o acelerado desmatamento em toda parte, esses animais estão cada vez mais sem espaço para viver. Claro que para sorte deles, hoje há um forte movimento de preservação da natureza, o que trás alguma perspectiva de salvação para muitas espécies que caminham tragicamente para a extinção.
Mas um curioso e bastante misterioso animal tem desafiado as enormes mudanças que o meio natural vem sofrendo pela obra dos seres humanos e está aprendendo a, digamos assim, conviver com eles. Esse animal é o gambá, também conhecido por saruê.
Ficou comum encontrá-lo em forros de casas, caixas abandonadas no quintal, vãos de paredes e até em caixa de luz. Muitas pessoas imaginando ser ele um monstro devorador de gente, ataca-o furiosamente ou atiçam cães a matá-lo.
No entanto o gambá, cujas várias espécies foram agrupadas sob o nome científico de  didelfídeos, é um animal inofensivo e jamais morde muito menos come gente.
Outro dia apareceu em nosso quintal um filhote, debaixo da chuva, tremendo, quase sem forças para andar. Recolhemos o animalzinho e procuramos aquecê-lo o mais rápido possível. Minha companheira ficou encantada com o bichinho e o adotou de pronto. Deu-lhe o nome de Pepe e passou a, pacientemente, alimentá-lo com ovos batidos, frutas e ração para filhote de gato. Dormia o dia todo e mal acordava para comer. Em quatro semanas o gambazinho já estava esperto e assim que apagávamos as luzes da casa para dormir, ele começava a correr de um lado para o outro, a subir nos móveis e a entrar nas gavetas dos armários. Esperamos mais duas semanas e então resolvemos soltá-
lo, ou  melhor, deixá-lo escolher o mundo lá
fora.
Fizemos uma casinha forrada com panos felpudos e aconchegantes e a colocamos no sótão. Ali deixamos o bichinho para passar a noite. Pelo telhado havia passagens e uma janela sem vidros por onde ele podia sair e alcançar a mata que ficava a uns dez metros da casa. Por duas noites ele explorou todo o enorme sótão, mas não se aventurou a fugir. De manhã eu subia e ia direto à casinha. Abria o teto e o encontrava enrodilhado entre os panos, dormindo relaxadamente. Mas na terceira noite foi embora e não voltou mais. Gostamos de imaginar que vive por perto e a qualquer hora vamos topar com ele, andando pelo quintal no lusco-fusco da noite.