Nunca cruzei com uma pessoa, na
cidade, que tivesse interesse em saber como chegam a ele os produtos de seu
almoço. A vida rural é que viabiliza a vida urbana, mas pouca gente se lembra
disso. Um indivíduo que nasceu e vive numa metrópole raramente se detém para
pensar como o feijão veio parar na sua panela ou como uma caixa de cenouras
chegou à quitanda, de onde comprou. Um amigo contou-me que, ao visitar uma
fazenda com seus dois filhos, esses faziam tantas perguntas sobre o que era o
que viam que se sentiu o mais ignorante dos pais. O caçula do dono da fazenda
teve que vir em seu socorro e pacientemente dedicou a tarde inteira a
ciceronear as crianças pelos pastos, currais e lavouras. Os caipiras da cidade
queriam saber, desde como o leito ia parar na caixinha de papelão, quanto porque
o café era vermelho e não preto como aquele que estavam acostumados a tomar de
manhã.
O lavrador nunca foi exemplo de
cultura e erudição, longe disso. A imagem que vem, espontaneamente, ao citadino
é a do Jeca Tatu. Mas, embora a vida rural tenha representado, historicamente,
o papel de reserva da ignorância e do analfabetismo, muita coisa mudou. Hoje,
produzir alimentos para abastecer a cidade é um empreendimento como qualquer
outro que se desenvolve numa grande cidade.
Mas o que desejo
destacar é outra questão. Embora nosso país não tenha uma forte tradição de
romantizar a vida junto à natureza, há, e de certa forma sempre houve, um
pequeno contingente de pessoas que poetizam a vida da roça. Alguns com exagero,
mas outros, sem fantasias irreais, defendem a escolha de viver num ambiente
mais natural, sem poluição, sem ruídos desagradáveis e longe da correria das
grandes metrópoles dos dias de hoje. Imagino que é extremamente difícil encontrar alguém que
não se emociona quando vê, no horizonte, entre os picos escuros das montanhas,
um pôr de sol, com o céu pincelado de nuvens douradas e sem formas definidas sobre
um fundo azul esmaecido. Nesse momento pode olhar ao redor e admirar as matas e
os pastos salpicados de gado branco e pequenas torres de terra dos cupins
operosos. É uma satisfação que não se consegue sentir na cidade e seu horizonte
de arranha céus.
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