Estava observando o terreno perto das árvores, numa parte
plana onde tenciono fazer alguns canteiros de verduras. Sempre admiro o viço
das plantas, principalmente no verão, quando uma área limpa se cobre de mato e
em pouco tempo cresce e logo ameaça transformar o que era antes uma terra
exposta ao sol, novamente em mata. Num metro quadrado contei mais ou menos 35
tipos diferentes de plantas. Se deixar, passado alguns meses o mato já tem o
tamanho de meio metro de altura.
Quando voltei para dentro de casa, vi que as pernas da minha
calça estavam repletas de sementes que haviam aderido ao tecido de forma tão
forte que precisei usar a unha para tirar uma a uma. Todo mundo sabe que muitas
plantas criam mecanismos de semeadura extremamente sofisticados e desenvolvem
pêlos na superfície das sementes para que algum passante, seja gente ou animal, arraste
essas para longe, garantindo a disseminação e a perpetuação da espécie. Um caso
clássico de semente que se agarra nas calças e peles das pessoas são os
popularmente conhecidos "carrapicho" e "picão".
Todo a imensa diversidade
de artimanhas que as plantas usam para, primeiro viabilizar a fecundação, o
cruzamento entre machos e fêmeas, usando aves, animais, insetos e o vento.
Depois vem o encanto dos recursos para viabilizar a
disseminação, espalhar seus óvulos que são as sementes, da mesma forma usando
os animais, as aves, os insetos e o vento.
Desse caso eu quero tratar aqui.
Na verdade é uma viagem instigante observar os mecanismos
que as plantas usam para se disseminarem. Nunca me canso de estudar esses detalhes
da natureza, tanto na variedade de recursos como nas miríades de formas
extremamente criativas de propagarem seus descendentes. Como as plantas não
andam nem podem criar seus descendentes assim como fazem os animais, dependem
dos outros para se reproduziram. Só as inumeráveis maneiras de desenvolver
soluções aerodinâmicas, atrativas ou adesivas já encantam quem tem a paciência
de observar não só as grandes paisagem mas também os pequenos, as vezes quase
invisíveis, detalhes dos sistemas de reprodução das plantas. Outro dia peguei
uma semente de cedro, uma pequenina vagem com pestanas quase transparentes.
Esse tipo de asa serve para que, quando ela
cai lá do alta da copa, o vento a leva para longe. Essa usa o vento, outras
usam o apetite das aves e dos animais, outras usam coberturas adesivas como
aquelas que descrevi no inicio. As que
desenvolveram cobertura comestível, também criaram cores chamativas e um núcleo
resistente ao processo de digestão de animais e aves. Dizem os botânicos que
certas sementes só nascem depois de passar pelo ataque do ácido do trato
digestivo dos mesmos. O cedro que citei, como se sabe torna-se imensa árvore de
20, 30 metros de altura, mas sua semente é muito pequena e pesa somente algumas
gramas. Mas, naquela minúscula semente armazena todas as informações de que
precisa para nascer, desenvolver e se reproduzir. Podemos dizer, meio grosseiramente, que cada
semente é um micro-chip, contendo os dados genéticos e a programação de
reprodução da árvore mãe.
Outro detalhe curioso é a abundancia de sementes que são
produzidos anualmente por uma árvore. É coisa assombrosa. Contei o cacho de uma
palmeira juçara e havia 456 coquinhos. Quando os plantei 80 por cento deles
nasceram. E essa palmeira solta até quatro cachos por ano. Para não correr
riscos, a natureza prefere exagerar na reprodução de seus descendentes. Uma
figueira brava, por exemplo, dá tanto fruto que é praticamente impossível
contá-los.
Essa superabundância de frutos não só garante a perpetuação
de cada planta como garante o alimento de miríades de pássaros, aves, animais e
do próprio homem. O que seria da humanidade se não houvesse essa abundância de
grãos, frutas, legumes e castanhas?
Naturalmente qualquer um de nós chega a conclusão de que a
vida não só é interconectada em seu conjunto biológico, quanto interdependente
em sua troca de favores e de dependências.
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