segunda-feira, fevereiro 29, 2016

A ESPIRITUALIDADE QUE NOS RESTA

Muitos  povos, como os egípcios da época dos faraós, adoravam o sol e o consideravam um Deus. Para esses povos, o fato de o sol todos os dias surgir no horizonte, expulsando a escuridão da terra, banhando os campos com sua luz dourada e quente, fazendo crescer as plantas e abrir as flores, só podia ser uma ação divina. Essa visão mágica dos fenômenos naturais tinha encanto e espiritualidade, sentimentos que as civilizações modernas não podem perder, sem que tenham enormes prejuízos psicológicos e sociais. A crença numa divindade atuando na natureza, como que cultivando os prados e  as florestas, assim como o ser humano faz com suas lavouras, era uma visão que envolvia mais que crença ingênua e mágica dos fenômenos físicos; respondia, também, a uma angustia espiritual diante das forças imprevistas das tempestades, dos terremotos e da cruel e permanente luta pela sobrevivênci. Afinal nossos antepassados viviam cercados por feras carnívoras e sob a fúria incontrolável da natureza.
Essa visão espiritual, o venerado respeito pela natureza, esteve presente na história da humanidade por longuíssimos períodos. É o que constatam os arqueólogos e sua incansável busca por registros ocultos pelas areias do tempo ou soterrados pela lama dos séculos. A humanidade deixou suas pegadas nessa aventura de milênios. Hoje eles escavam a terra e encontram vestígios de rituais, cochas, pedras buriladas, amuletos cizelados, colares, indícios de cultos às divindades naturais e até às feras da noite.
Mas hoje, sem religião, com a ciência descobrindo as razões e causas de todos os fenômenos naturais, não encontrando um deus ou uma força sobrenatural por trás das manifestações físicas, o que restará à humanidade?
Na verdade, a ciência não elimina o espiritual de maneira irreversível. Por que perderíamos a capacidade de admirar o poder do relâmpago, a beleza dos campos floridos, ou mesmo o encanto dos raios do sol passando por uma fresta das rochas enegrecidas da encosta da montanha? Entender porque o sol brilha, que há uma reação atômica em  seu interior cujo processo gera milhões de graus de calor e emite luz, não nos priva, necessariamente, de respeitar e admirar esse fenômeno fantástico de energia e força. Respeitar a natureza é compreender que apesar da enorme poder que a humanidade adquiriu com sua mente hiper-desenvolvida, ela não é capaz de alterar as leis da física, a velocidade da luz ou a presença da morte. A emoção e o prazer de admirar as flores da primavera não estão no mistério ou na ignorância das  leis da natureza; são características do  espírito humano e não se apagam com o conhecimento das mesmas e de como elas regem o universo. Pelo contrário, pode facilitar uma nova visão e gerar profunda reverência, em face dessas intrincadas e fantásticas leis. Afinal  somos, absolutamente, parte da natureza e não donos dela. Poderemos um dia saber quase tudo sobre ela, mas continuaremos sendo uma parte dela, e, se não a respeitarmos, ela nos varrerá da face da terra. 

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