quinta-feira, dezembro 21, 2006

FOI CHACINA

Por: Abel Aquino
Estava trabalhando no computador quando ouvi muitos disparos de arma de fogo. Fui até a janela do quarto da frente. Dali pude ver o homem com a pistola na mão, no meio da rua, apontando para os veículos que passavam. A arma já estava descarregada mas ele apertava o gatilho toda vez que apontava para alguém através do vidro do carros que cercava. Da janela podia ver um corpo caido junto ao muro do outro lado da rua. Quando a policia chegou e o deteve, sai e fui até lá. Surgiam pessoas de todo lado. A polícia pegou o corpo que estava junto ao muro. Atravessei a rua e vi duas pessoas caidas na porta do bar e quantidade enorme de sangue escorrendo por baixo delas e saindo pela guia. A uns cinquenta metros, no meio da rua, havia outro corpo baleado. Era uma visão impressionante! Parecia um palco de guerra: o pente descarregado da pistola jogando no chão, cápsulas deflagradas por toda parte. A gente tentava entender o que se passara ali mas era difícil.
Briga de gangue? Vingança? Comecei a atentar o ouvido para o que comentavam as pessoas a roda dos cadáveres.
- Olhe, este aq ui é o dono do bar! Aquele é o irmão dele. Quem é que fez isso, meu Deus!
Só no outro dia, através da televisão e dos jornais pude ver a caro do assassino e as possíveis razões por tanta carnificina. O assassino era um paraibano de 31 anos.
Fez tudo aquilo por encomenda, embora a encomenda fosse de executar apenas o dono do bar. Percebi que sua fisionomia revelava indiferença e despreocupação pelo que fizera.
É uma pessoa normal? foi a pergunta que me ocorreu. Normal, queria dizer como eu ou você. Seria ele um homem violento, sempre foi violento? Que educação teve?
Como se cria uma criança extremamente pobre lá nos sertões da Paraíba?
Impressionei-me com o poder de fogo da pistola. Fiquei sabendo que era uma 380. Como uma arma com essa capacidade de matança foi parar na mão desse “elemento”, como diz a polícia?
E as pessoas que ele matou eram de bem? a gente pensa logo se mereciam aquele destino ou não. Eram todos do mesmo nível do assasssino?
Começo a ver que existem outros mundos que não o meu, esse mundo da racionalidade, da visão de um mundo que evolui para a civilização, do conhecimento de nós mesmos, capaz de praticar o bem e não só o mal no sentido de destruição. Porque aquelas pessoas que eram seres viventes, humanos racionais, foram enviados para o nada da morte por balas velozes da arma de um endoidecido.
Agora pergunto: ele endoideceu naquele momento ou foi criado para não ser mais que um endoidecido? Imagino que como os tubarões, ele tenha se excitado com o sangue jorrando dos buracos das balas e se transformado em fera perante o cheiro de sangue.Se tivesse mais munição, sem dúvida, continuaria matando quem cruzassem seu caminho.
O mundo do intelectual, o universo do que tem cultura suficiente para fazer elucubrações filosóficas como estas, não tem nada a ver com o mundo daquela pessoa que atirou e matou quatro semelhantes como quem atira em ratos ou coisa parecida.
Seu mundo é bruto com um palco de guerra e a morte é apenas o azar dos que perdem a batalha. Imagino que, na cadeia, ele vai se vangloriar perante os companheiros de cela e contar repetidas vezes a proeza que fez. Poderia, com isso, se transformar no lider ali dentro. Mas não terá dor de consciência? Não sentirá remorso pelo que fez?
Mas dor de consciência tem aquele que tem consciência. Esse assassino vive num estágio mais animal de vida, foi criado assim, imagino. Violência para ele faz parte da vida. Pode ter tido pai violento, mãe violenta, tio violento, coronel violento, ricos violentos. Fiquei sabendo que ele tem um irmão também matador, que mato por prazer, como dizem. Será um mal de família? É difícil dizer.
A única certeza que temos é que quatro corpos estavam estendidos no chão, sem vida, com sangue escorrendo pela calçada. Depois a policia arrastou os cadáveres pelas pernas como se arrastasse porcos em dia de carniceiro. Tudo naturalmente; e os curiosos suspiraram por aquilo não ter acontecido com eles.

Nenhum comentário: