quarta-feira, julho 24, 2013

UM CORPO NO RIO

Todo mundo tinha medo da correnteza naquele ponto do rio. As margens ficavam estreitas e as pedras negras e sempre molhadas da margem empurravam a água turva para o meio, onde rodopiava, encrespada, e descia velozmente por mais de cem braças até encontrar o remanço.
Marcilio parou sua montaria junto ao barranco e ficou, por alguns minutos, observando a corredeira. De vez em quando os raios do sol da manhã brilhavam na barriga prateada de peixes que desciam saltitando por entre as pedras.
De repente viu o corpo de uma pessoa rodando pela correnteza, de bruço, com a roupa rasgada, os braços abertos e balouçando nos movimentos da água. Por um momento Marcilio acompanhou o corpo, fustigando o cavalo e percorrendo a margem do rio, mas logo adiante o mato impedia a passagem e teve que afastar. Contornou o mato e, metros à frente, voltou a se aproximar da margem. Perscrutou a água mais não viu mais o corpo.
Resolveu voltar para casa. Depois de espalhar a noticia, os vizinhos curiosos desceram correndo em direção do rio para ajudar Marcilio a procurar o corpo. Ficaram a tarde toda percorrendo as margens acidentadas, mas não encontraram nada. Marcilio ia a frente com o facão na mão, abrindo caminho no capim alto do brejo.
Depois de duas horas de procura começaram a duvidar da história.
Marcilio, você deve Ter visto coisa demais, disse Fúlvio duvidando.
Não sou maluco, sô, respondeu Marcilio. – Vi muito bem; era um defunto boiando na água, sim!
Mas então deveria estar parada nesse remanço agumentou Crispim.
Era um defunto,sim, repetiu Marcilio já impaciente.
Eu não vou procurar mais não, concluiu Fúlvio. – Daqui um pouco escurece e a gente não pode ficar aqui para ser picado por cobra nesse matagal besta.
A gente pode não achar o corpo, justificou Marcilio. – mas que eu vi, eu vi.
Voltaram para suas casas, conversando, uns achando que o rapaz estava maluco, outros dizendo que poderia até ser verdade, mas faltava o corpo para tirar toda dúvida. Marcilio ficou alguns passos para trás, resmungando. Sabia que aquilo iria virar motivo de chacota mas estava confuso. Olhou para trás ouviu o barrulho da correnteza e pensou: será que eu me enganei?

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