quarta-feira, janeiro 02, 2013

Engaiolado junto aos Pássaros

Costumo dizer que adoro ouvir o canto dos pássaros, mas, diferentemente daquelas pessoas que engaiolam essas aves canoras em volta da casa, eu construí minha gaiola no meio deles e, assim, cercado de mata, posso sentar no banco da minha varanda e ouvi-los gorjear pelo terreiro, no alto das árvores ou pousados nas rochas cobertas de liquens. Os bugios costumam vir até às árvores frutíferas que tenho junto ao muro e comem os frutos da nespereira despreocupadamente. Quando aproximam, o macho maior fica no alto do galho mais elevado, observando, enquanto o restante do bando desce aos galhos carregados de bagos amarelos. Depois que constata que somos amigos e não demonstramos intenções agressivas, ele sai de seu posto de guarda e vai comer com os outros. Além dos bugios recebo as visitas de sagüis e macacos- prego. Eles usam as árvores como estradas e todos passam pelos mesmos galhos e saltam de um trono a outro no ponto mais fácil e aparentemente já conhecido, pois raramente mudam de rota. Os bugios são mais barulhentos, embora os sagüis pratiquem uma linguagem estranha de chiados que lembram assobios agudos. Percebo, de vez em quando, a presença de um lagarto, um teiú enorme; deve ter um metro de comprimento e quando aproximo saí em correria, quebrando galhos secos e pulando por sobre pedras e troncos com agilidade. Temos o costume de misturar o lixo orgânico com terra fazendo um monte de futuro adubo para as plantas e para a horta, uma compostagem. A noite tínhamos a visita de um gambá que aparecia para revirar o monte a procura de restos de comida. Ele caminhava pelo muro e descia pelo galho da pitangueira. Outro dia encontrei-o morto junto a cerca. Examinei seu corpo, mas não vi marcas de ferimento ou outro indicativo da causa da morte. Seu pêlo estava vívido e denso, indicado que gozava de boa saúde. De qualquer forma não descobri a causa de sua morte. Enterrei-o perto do pé de juçara. Num domingo chuvoso vimos uma preguiça tentando atravessar a estrada. Alguns carros pararam e os motoristas saíram para tentar retirá-la do meio do caminho. Fui até lá e pedi para que deixassem eu levá-la para a mata no fundo da minha casa. Dalí o bicho foi lentamente subindo na árvore e, em pouco tempo desapareceu na mata. Tive a impressão de que, embora movimente-se lentamente, é capaz de ir de galho em galho o mais rápido do que se imagina.

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