terça-feira, fevereiro 19, 2008

Lama Vermelha

Depois da chuva a moça saiu pela estrada. Tirou os sapatos, segurou-os na mão esquerda e, com a direita, levantou as pontas da saia e foi pulando por entre as poças. Os amassa-barros gorjeavam ao lado de suas casinhas no galho das árvores. O caminho era estreito e as folhas das árvores forravam as bordas, ocultando a lama. A moça tinha pressa, quase corria. Seus cabelos esvoaçavam e a gola de sua blusa amarela agitava-se com o vento. Quando chegou à estrada principal, olhou para o norte. Lá distante apontava um carro vermelho. Colocou os sapatos rapidamente. O ronco do motor chegava baixinho, mas foi aumentando. Já podia ver os detalhes do carro; o para-brisa enlameado, o retrovisor dobrado numa posição estranha. Ele se aproximava chapinhando o barro vermelho e as poças dágua abriam-se em ondas raivosas. Quando o carro parou ao seu lado, a moça dobrou-se na ponta dos pés, esticou a cabeça, e recebeu um gostoso beijo do motorista. Pegou sua mão e por um instante olhou dentro de seus olhos. Ele sorria levemente. Ficou parado por alguns minutos - trocaram palavras em voz baixa - depois ele disse tchau e seguiu em frente. A moça permaneceu imóvel por um tempo, feliz, abanando a mão. Retirou novamente os sapatos, segurou-os na mão esquerda e com a direita levantou as pontas da saia e foi pulando por entre as poças, de volta para casa, agora sem pressa, saboreando o gosto do beijo que ficou em seus lábios.

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