quarta-feira, dezembro 23, 2015

A LUA QUASE AZUL E CHEIA


 Na noite da última lua azul, 31 de julho de 2015, fomos para a sítio e ela nos acompanhou o tempo todo. Numa parte da estrada em que há matas de ambos os lados e algumas curvas acentuadas, reduzi a velocidade do automóvel, apaguei os faróis e dirigi por uns dois quilômetros só com as lanternas acessas, por segurança. Realmente havia uma cor azulada no ar, um tom esmaecido nos vultos de pedras, barrancos e árvores. Parecia que flutuávamos sobre a estrada.
A lua, própria, continuava cor de prata, mas, talvez, quem dera esse nome a ela - quando aparece duas vezes em um mesmo mês - tenha passado por igual experiência do tipo que passamos. Na realidade, o ar estava cinza azulado e, com o movimento do carro, os contornos da paisagem ora brilhavam ora ocultavam sob a sombra das matas. Foi alguns minutos, mas para jamais esquecer.
Lembrei-me, então, das crenças, lendas e cultos à lua, principalmente à lua cheia. Esses existiram desde a pré-história e entre praticamente todos os povos da terra. A lua sempre foi vista como mais misteriosa que o sol, talvez um pouco tímida, fria, mutante. Por isso ela é ligada às estações mais do que o astro rei. Simboliza também mudanças, o passar dos tempos, as fazes da menstruação feminina, por isso foi ligada à gravidez, à fertilidade. Na verdade a lua é um elemento essencialmente feminino na longa tradição de culto e veneração por sua presença e seus quatros estágios.
Na china há lugares apropriados para as pessoas visitarem a lua literalmente. Lugares altos, no cume de montanhas, onde as pessoas levantam os braços e sentem a sensação de que podem quase tocá-la. No oriente existem lugares chamados de “palácio da lua”, “bosque da lua cheia”, “montanha da lua”. Há até uma festa chamada de “bolo da lua”. Em Macau é um evento que se comemora até os dias de hoje.
A lua está ligada ao namoro, portanto ao amor, à saudade, simbolizando uma carga de sentimentos poéticos e de felicidade.
No interior do Brasil, quando ainda não havia energia elétrica, os dias de lua cheia eram ocasiões para os visinhos visitarem-se uns aos outros. Iluminados pela lua, tomavam as trilhas da roça ou do pasto, um atalho que sempre levava ao vizinho de cima, ou ao vizinho de baixo.
Os povos antigos cultuavam deusas que se confundia com o astro lunar e tinham papeis determinados a cumprir no meio dos humanos. Eram deusas da fertilidade ou protetora da caça, da mulher grávida, da criança, dos amantes. Para os gregos a lua cheia era a deusa Selene, para o romanos era Diana, para o babilônicos era Ishtar.
Os astrólogos ligam a lua ao fenômeno natural dos ciclos e das mudanças.
O mais óbvio e que influencia diretamente os seres humanos é a maré, provocada pela gravidade da lua.
Nas tradições de todos os povos a lua rege quase tudo na vida, desde o crescimento dos cabelos, o viço das plantas, ou a sorte e o azar dos seres humanos.


Eu, da minha parte, tirei a noite seguinte para sair para a divisa da floresta, sentar num tronco caído e relaxar, lavar o espírito com o banho daquela luz prateada e ouvir os ruídos do vento suave sobre as folhas e galhos das árvores mais altas. Os grilos pareciam mas animados e alguns vaga-lumes piscavam entre os troncos. Era uma  oportunidade de olhas a encosta do monte e ver tudo num tom cinza, quase preto e branco. As cores desaparecidas tornavam a paisagem estranha e quase irreconhecível. Não era bela, mas emotiva, meio romântica talvez.  

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