A lua, própria, continuava cor de prata, mas, talvez, quem
dera esse nome a ela - quando aparece duas vezes em um mesmo mês - tenha
passado por igual experiência do tipo que passamos. Na realidade, o ar estava
cinza azulado e, com o movimento do carro, os contornos da paisagem ora
brilhavam ora ocultavam sob a sombra das matas. Foi alguns minutos, mas para
jamais esquecer.
Lembrei-me, então, das crenças, lendas e cultos à lua,
principalmente à lua cheia. Esses existiram desde a pré-história e entre
praticamente todos os povos da terra. A lua sempre foi vista como mais misteriosa
que o sol, talvez um pouco tímida, fria, mutante. Por isso ela é ligada às
estações mais do que o astro rei. Simboliza também mudanças, o passar dos
tempos, as fazes da menstruação feminina, por isso foi ligada à gravidez, à
fertilidade. Na verdade a lua é um elemento essencialmente feminino na longa tradição
de culto e veneração por sua presença e seus quatros estágios.
Na china há lugares apropriados para as pessoas visitarem a
lua literalmente. Lugares altos, no cume de montanhas, onde as pessoas levantam
os braços e sentem a sensação de que podem quase tocá-la. No oriente existem
lugares chamados de “palácio da lua”, “bosque da lua cheia”, “montanha da lua”.
Há até uma festa chamada de “bolo da lua”. Em Macau é um evento que se comemora
até os dias de hoje.
A lua está ligada ao namoro, portanto ao amor, à saudade,
simbolizando uma carga de sentimentos poéticos e de felicidade.
No interior do Brasil, quando ainda não havia energia elétrica,
os dias de lua cheia eram ocasiões para os visinhos visitarem-se uns aos
outros. Iluminados pela lua, tomavam as trilhas da roça ou do pasto, um atalho
que sempre levava ao vizinho de cima, ou ao vizinho de baixo.
Os povos antigos cultuavam deusas que se confundia com o
astro lunar e tinham papeis determinados a cumprir no meio dos humanos. Eram
deusas da fertilidade ou protetora da caça, da mulher grávida, da criança, dos
amantes. Para os gregos a lua cheia era a deusa Selene, para o romanos era
Diana, para o babilônicos era Ishtar.
Os astrólogos ligam a lua ao fenômeno natural dos ciclos e
das mudanças.
O mais óbvio e que influencia diretamente os seres humanos é
a maré, provocada pela gravidade da lua.
Nas tradições de todos os povos a lua rege quase tudo na
vida, desde o crescimento dos cabelos, o viço das plantas, ou a sorte e o azar
dos seres humanos.
Eu, da minha parte, tirei a noite seguinte para sair para a
divisa da floresta, sentar num tronco caído e relaxar, lavar o espírito com o
banho daquela luz prateada e ouvir os ruídos do vento suave sobre as folhas e
galhos das árvores mais altas. Os grilos pareciam mas animados e alguns vaga-lumes
piscavam entre os troncos. Era uma
oportunidade de olhas a encosta do monte e ver tudo num tom cinza, quase
preto e branco. As cores desaparecidas tornavam a paisagem estranha e quase irreconhecível.
Não era bela, mas emotiva, meio romântica talvez.
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