Caminhos
e estradas são muito simbólicos e servem para criar metáforas de todo tipo.
Dizem que viver é seguir um caminho. Quando a pessoa comete erros, consideram
que perdeu o caminho ou o rumo. Não consigo imaginar como é esse caminho nem
quem o abriu para mim. Alguns dizem que viver é seguir por essa
imaginaria estrada até encontrar a morte. Outras pessoas dizem que, se
seguirmos certas regras obrigatórias, ao final dessa viagem alcançaremos o
paraíso. Claro que uma boa parte acaba indo é para o inferno.
Acho
bastante interessante essas metáforas, pois simplificam muito a nossa
necessidade de encontra uma lógica ou uma razão do viver.
Mas, será
que não estamos sendo enganados com isso? A metáfora da vida como um caminho a
percorrer dá a ilusão de que existe um sentido prévio da vida, uma espécie
de missão impostas a todos as pessoas. Dizem até de que há, numa determinada
etapa desse caminhar, uma encruzilhada. Para a esquerda vamos direto a um mundo
sustentado pelo diabo. Para a direita, podemos alcançar o céu, povoado de anjos
imaculados e com um chefe todo poderoso chamado Deus.
No
cotidiano de nossas vidas essa metáfora, embora não seja nada prática, nos
segue como vulto ideal, uma espécie de bússola que nos orienta ao longo da
acidentada jornada
Por atrevimento ou, talvez por imprudência,
resolvi imaginar como seria minha vida sem essa metáfora. Considerei que viver
pode ser um caminhar, mas sem nenhuma vereda, nem uma trilha sequer. Teria que
viver abrindo minha própria trilha em meio às florestas das possibilidades, de
desafios, de obstáculos e das necessidades de escolhas. Preciso, toda, desbravar
uma parte desconhecida, uma subida penosa e cheia de pedras ou uma descida
inclinada demais, escorregadia e ponteada de valas e cercada de despenhadeiros.
Posso encontrar, à frente, pântanos perigosos ou desertos inclementes. De
qualquer forma minha caminhada não pode ser detida a não ser pela morte. E,
como desejo continuar bem vivo, não desisto e prossigo. Imagino que não há
bússola nem outros meios confiáveis de me orientar. Sigo em frente meio
perdido, desorientado ou caminhando em círculos. Depois consigo encontrar meu
rumo e recobrar o animo de prosseguir. Atrás de mim, fica o caminho, as marcas
das solas do sapato e os galhos e cipoais rompidos à minha passagem. À frente,
não vejo sinais de de outros, rastros de
algum viajante mais prudente, só arbustos espinhosos, liames enovelados entre
os troncos das árvores, ou charcos traiçoeiros. Quando passo pelo deserto, só
vejo areia, pedras, e o brilho do sol abrasador. Passo fome, passo cedo, sinto
fraquezas, as vezes desânimos ou desespero, mas tenho que prosseguir. Depois
que passo, fica o caminho, as marcas de minhas obras, das escolhas e dos atos.
Um caminho que depois o tempo vai se encarregar de devolver à natureza e apagar
as pegadas de minha passagem.
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